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Turcos vão às urnas escolher entre a continuidade autocrática e a promessa de uma viragem democrática

Os dois principais protagonistas das eleições na Turquia que se realizam num contexto de uma grave crise económica e de um trauma nacional após o sismo de 6 de fevereiro, com consequências devastadoras amplamente atribuídas às autoridades.

Turcos vão às urnas escolher entre a continuidade autocrática e a promessa de uma viragem democrática
Khalil Hamra

Numa população de mais de 84 milhões de pessoas, os cerca de 64 milhões de eleitores, 3,4 milhões dos quais já votaram no estrangeiro até terça-feira, 9 de maio, incluindo em Portugal, escolhem o Presidente para os próximos cinco anos e, em simultâneo, votam para renovar o Parlamento.

As sondagens prevêem uma eleição presidencial renhida, que ambos os campos afirmam poder vencer à primeira volta. Caso contrário, a segunda volta realiza-se a 28 de maio.

Este domingo os turcos têm de escolher, sobretudo, entre o partido islamita e conservador AKP de Recep Tayyip Erdogan e o laico CHP de Kemal Kiliçdaroglu - coligado com outros cinco partidos -, entre uma prática de poder cada vez mais autocrática, marcada pela religião e fanatismo, e a promessa de uma viragem democrática e de regresso a uma relação "pacífica" com o país e com o resto do mundo.

Kemal Kiliçdaroglu: a aposta na conciliação

Kemal é anti-Erdogan e sonha em ser o salvador de uma democracia turca prejudicada por 20 anos de um poder incontestável. Se for eleito, promete por isso romper com a era Erdogan e dar à Turquia liberdade e democracia.

Recep Tayyip Erdogan luta arduamente para se manter no poder

A campanha de Erdogan centra-se nos números: aumento das pensões, rendas da habitação, as faturas de energia) mas também em insultos: nas acusações aos seus rivais de conluio com os "terroristas" do PKK, o partido dos trabalhadores do Curdistão, critica as ligações com o Ocidente e as suas "conspirações", e diz que as suas convicções "pró-LGBT" que querem "destruir a família".

Sondagens e as incertezas dos que votam pela primeira vez

Os 6 milhões de jovens que irão às urnas pela primeira vez só conhecem Erdogan e a sua tendência autocrática, os grandes protestos de 2013 e o golpe de Estado fracassado de 2016, que desencadeou dezenas de milhares de detenções.

“É através de vocês que a primavera chegará”, diz Kiliçdaroglu.

De acordo com uma pesquisa do Metropoll Institute, a maioria dos jovens entre 18 e 24 anos apoia Kiliçdaroglu, mas 30% vão escolher Erdogan.

Outra incógnita: o impacto do poderoso sismo de 6 de fevereiro, que matou mais de 50 mil pessoas e um número ainda desconhecido de desaparecidos no sul do país. Os sobreviventes, que denunciaram a lentidão do socorro, estão hoje dispersos nos países ou refugiados em tendas e contentores.

E há ainda receios sobre as operações eleitorais e "o estado da democracia" na Turquia, alertou o Conselho da Europa, que envia para o país 350 observadores, além dos indicados pelos partidos para as 50 mil assembleias de voto.

A oposição mobilizou 300 mil fiscais e duplicou o número de pessoas habilitadas para fiscalizar a votação.