O primeiro bebé a nascer de um útero transplantado em Espanha chama-se Jesus e, depois de um início de vida atribulado, encontra-se estável e a o seu estado de saúde a melhorar de dia para dia, foi revelado esta segunda-feira pelo Hospital Clínic de Barcelona, que acompanhou o caso.
A mãe, de 34 anos, foi submetida a uma cirurgia de 20 horas para receber o útero doado pela irmã e, assim, conseguir concretizar o sonho de estar grávida. Sofre de síndrome de Rokitansky, que leva a que mulheres nasçam sem útero nem trompas de falópio, mas com ovários.
Tamara Franco foi selecionada, em 2015, para integrar um grupo de cinco mulheres que iriam ser submetidas a um programa experimental para transplante de útero. Foi a primeira e, em outubro de 2020, recebeu o órgão.
O primeiro sinal de que o procedimento correu bem chegou dois meses depois, com a chegada da primeira menstruação. O processo demorou anos, com um aborto espontâneo e covid-19 pelo meio, e terminou a 10 de março deste ano, com o nascimento de Jesus, numa cesariana programada devido a complicações da gravidez.
"Foi um processo difícil, mas valeu a pena" referiu Tamara Franco.
Jesus nasceu prematuro e com pouco mais de um quilo, mas encontra-se estável e o seu estado de saúde a melhorar de dia para dia. Já superou os três quilos e os pulmões já estão funcionais, o que permitiu à equipa médica dar-lhe alta. Já está em casa com os pais.
A mãe foi entretanto submetida a uma cirurgia para retirar o útero, pois não pretende ter mais filhos, evitando-se desta forma que fique ‘presa’ a medicação para evitar a rejeição do órgão para o resto da vida.
Questões éticas e mais de 100 transplantes realizados
A equipa médica que acompanhou o caso reconhece que este pode abrir “um debate ético” devido aos fins reprodutores do procedimento cirúrgico.
O primeiro nascimento de um bebé de uma mãe que recebeu um transplante aconteceu na Suécia, em 2014. Desde então “fizeram-se mais de 100 transplantes e nasceram mais de 50 bebés. Calcula-se que a taxa de perda do órgão transplantado ronde os 15 a 20%”, resumiu Francisco Carmona, chefe do serviço de ginecologia responsável pelo projeto em Barcelona.