Espanha tem muito mais partidos com assento parlamentar, partidos locais e autonómicos, movimentos que defendem a independência ou a secessão das suas regiões, herdeiros diretos e orgulhosos de movimentos terroristas e do fascismo, líderes independentistas no exílio. Além disso, teve uma brutal guerra civil no século XX, tem uma monarquia e debate-se continuamente com a existência do próprio país ou do modelo de Estado. Ainda assim - e apesar de ainda haver muita incerteza no ar - há lições que muitos deviam retirar em Portugal.
1. Chamar mentiroso a toda a hora só anima a própria bolha. Esta foi a campanha mais suja e baixa da democracia espanhola. As ideias deram lugar a ataques de carácter, em que se falou mais do "tamanho do nariz" dos candidatos do que de qualquer outra coisa. Para um partido de poder, que precisa de alargar a base ao centro, isso não serve.
2. A total personalização do alvo a abater é uma armadilha. O anti-sanchismo foi o principal motor da campanha de PP e Vox. Como se vê, isso mobilizou o sanchismo de forma impressionante.
3. A polarização extrema cria caixas de ressonância enganadoras. As ideias extremas são as que fazem mais eco. Achar que o eco é outro som é um erro fatal em política. Num sistema maioritário (EUA, Brasil, Reino Unido, França, neste caso a duas voltas) até pode funcionar; num país onde o bipartidarismo toma conta de mais de 60% dos votos é caminhar para o desaire.
4. As guerras culturais não dizem rigorosamente nada a uma larga maioria do eleitorado.
5. A extrema-direita mobiliza a esquerda. Esta é a lição mais básica de todas. E a mais óbvia.
6. A teoria das equivalências é indigente. Tal como em Portugal, a ideia de fazer equivaler a extrema-direita a partidos muito à esquerda não tem qualquer relevância eleitoral. É um exercício estéril e básico, historicamente errado e que serve mais para auto-convencimento da direita tradicional do que para ganhar votos.
7. As tracking polls são um instrumento perigoso. Tradicionalmente, estes estudos diários só serviam para ajudar as direções das campanhas, agora despontam como cogumelos, São um instrumento sofisticado, mas com enormes limitações e riscos. Tal como em Portugal - onde chegaram a colocar o PSD à frente do PS - condicionaram a campanha e não apanharam os movimentos contrários e de última hora.
8. O desprezo pela tática é uma nota de suicídio. A crítica mais absurda que se pode fazer a um adversário é a de que é apenas um mestre da tática. Desde Atenas e Roma, que a tática tem grande valor político.
8 lições de Espanha para uma direita em choque
Desde finais de maio que Espanha era a candeia que iria alumiar o regresso do centro-direita e da direita ao governo em Portugal. Mas a candeia apagou-se, longe da maioria e de qualquer aparente solução parlamentar. O Chega chocou com as suas óbvias limitações e os cálculos aritméticos do PSD são, como sempre foram, muito mais complexos do que muitos julgavam. Opinião de Ricardo Costa.