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“Passa-se só um cheque”: polícia ri-se após morte de jovem indiana nos EUA

O momento foi captado por uma câmara-corporal. O agente afirma que as declarações foram retiradas do contexto e que queria criticar a atuação dos advogados. A organização norte-americana que analisa a conduta dos polícias abriu uma investigação sobre o caso

“Passa-se só um cheque”: polícia ri-se após morte de jovem indiana nos EUA
Eric Gay

Um polícia norte-americano está a ser investigado por se ter rido da morte de uma jovem de origem indiana. Numa conversa telefónica, que foi gravada pela câmara-corporal, o agente disse que a cidade deveria “passar um cheque” e que a vida da rapariga de 23 anos tinha “valor limitado”.

O caso remonta a 23 de janeiro de 2023, quando o agente Daniel Auderer respondeu a uma ocorrência perto da Universidade do Nordeste de Seattle. A jovem Jaahnavi Kandula, de 23 anos, tinha sido atropelada por um carro da polícia, quando atravessava a estrada, tendo acabado por morrer.

Segundo uma investigação policial ao incidente, o agente que atropelou Jaahnavi Kandula seguia a uma velocidade de 119 quilómetros por hora, tendo o corpo da jovem sido projetado mais de 30 metros.

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No áudio, que foi divulgado pelo próprio Departamento de Polícia de Seattle, Daniel Auderer começa por explicar a Mike Solan, presidente da união de polícias, que o colega seguia a cerca de 80 quilómetros por hora – o que “não é irresponsável para um condutor experiente” – e que não acredita que o corpo da vítima tenha sido projetado.

Mas ela está morta”, diz antes de uma gargalhada. “Não, é uma pessoa normal. Sim, passa-se só um cheque”, prossegue, voltando a rir-se. Na gravação não é possível ouvir a resposta do outro lado da chamada.

Daniel Auderer acaba também por sugerir que a cidade pague uma indemnização de 11.000 dólares (10.250 euros): “Ela tem 26 [idade errada], de qualquer forma. Tem valor limitado”, acrescenta.

A gravação da câmara-corporal foi partilhada no Youtube pelo Departamento de Polícia de Seattle. No início do vídeo, a polícia explica que este conteúdo “foi identificado num processo de rotina por um funcionário do departamento que, preocupado com a natureza da declaração que ouviu, corretamente transmitiu as suas preocupações aos seus superiores”.

Por essa razão, a organização norte-americana que analisa a conduta dos polícias abriu uma investigação sobre o caso, procurando analisar “o contexto” em que as declarações foram proferidas e se a conduta da polícia foi violada em algum momento.

Daniel Auderer não respondeu às questões enviadas pela Associated Press, no entanto, em entrevista a um programa de rádio da KTTH-AM, o polícia garante que estas declarações eram uma crítica aos advogados.

Eu ri-me do ridículo como estes incidentes são litigados e do ridículo que observei estes incidentes a acontecerem enquanto as duas partes negociavam uma tragédia”, disse o polícia.

O Departamento de Polícia de Seattle garante estar “em contacto com a família da vítima” e que continua a “honrar o seu pedido de privacidade”.

O tio de Jaahnavi Kandula, que tratou da trasladação do corpo para a Índia, afirma ao The Seattle Times que a “família não tem nada a dizer” sobre o assunto.

Só me questiono se as filhas ou nestas desses homens têm valor. Uma vida é uma vida”, afirma.