As manifestações, os protestos e a tensão voltaram às ruas em França. Com mais de 100 marchas agendadas para este sábado, as autoridades ficaram em alerta e viram-se obrigadas a reforçar as medidas de segurança.
Apesar do início de marcha pacífico, com milhares de pessoas a manifestaram-se “contra a violência policial”, em Paris, três polícias ficaram ligeiramente feridos quando o carro em que seguiam foi atacado “com uma barra de ferro” e pedras.
Um polícia ainda saiu por instantes da viatura com a arma na mão para afastar os manifestantes, um momento gravado e publicado nas redes sociais, que entretanto foi confirmado pela polícia à AFP, mas o ataque só terminou depois da chegada de reforços.
A violência acabou também por se registar quando vários encapuzados partiram as janelas de um banco durante o percurso da marcha em que participavam, levando a polícia a ter de intervir.
Seis pessoas foram detidas, segundo o Ministério do Interior francês. Sobre os números de participantes nos protestos, o Governo contabilizou mais de 30 mil em todo o país e nove mil em Paris. Já o sindicato CGT e o partido de esquerda radical LFI garantem que mais de 80 mil pessoas estiveram na rua e em Paris cerca de 15 mil.
“Justiça para Nahel”
Nas ruas da capital francesa, a multidão gritava “Polícia em todo lugar, justiça em lugar nenhum”, “sem justiça, sem paz” e “justiça para Nahel”.
A morte de Nahel Merzouk, de 17 anos, em junho, continua a estar na memória dos manifestantes. O jovem foi morto durante uma "Operação Stop" em Nanterre, nos arredores de Paris.
O Ministério Público francês considerou "provável" que a morte tivesse sido "causada por um choque violento no peito provocado pelo disparo de um projétil do tipo 'Flash-Ball'", outra designação para Lançador de Balas Defensivo, ou LBD.
A morte de Nahel gerou uma onda de tumultos no país.
Recorrer à "violência legítima" para travar "comportamentos perigosos”
Um mês depois da morte de Nahel, o Comité das Nações Unidas para a Eliminação da Discriminação Racial denunciou a prática "persistente" em França de "identificação racial combinada com o uso excessivo da força na aplicação da lei, especialmente pela polícia, contra membros de grupos minoritários, incluindo pessoas de origem africana e árabe.
O Governo francês nega a existência de racismo sistémico ou de brutalidade por parte da polícia; o chefe da polícia de Paris, Laurent Nunez, defendeu os agentes, afirmando, na emissora France-Info, que por vezes é necessário recorrer a "violência legítima, legal e proporcional" para travar "comportamentos perigosos, vandalismo e pilhagens".
Vigilância policial especial
Cerca de 30 mil polícias foram destacados para manter a ordem no país, numa altura que decorre a visita do Papa Francisco a Marselha e o Campeonato do Mundo de Râguebi.
De acordo com o gabinete do ministro do Interior, a segurança já tinha sido reforçada para a visita de três dias do Rei Carlos e da Rainha Camila, que terminou na sexta-feira à noite.