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"Quando Israel entrar em Gaza vai haver mortes civis"

Em análise, Ricardo Costa afirma que “Nos próximos dias, ou nas próximas horas, quando Israel entrar em Gaza, o número de atrocidades, não necessariamente desta natureza, mas mortes civis vão existir”.

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Segundo Ricardo Costa, as imagens divulgadas estas quinta-feira pelo Estado de Israel, e a que o secretário de Estado norte-americano Anthony Blinken se referiu como “imagens terríveis” de bebés assassinados e queimados, confirmam a violência do ato inédito provocado pela ação do Hamas em território israelita e que, segundo o jornalista, vão evoluir nos próximos dias.

“No fundo confirmam o que aconteceu, a violência, o ato inédito. Aquilo que foi classificado desde sábado como o 11 de setembro de Israel, não só pela enorme falha de segurança que existiu do aparelho militar e do aparelho de serviços de informações israelita, que é uma falha sem precedentes históricos, como pelo ataque a civis, numa ação militar do Hamas, que tinha como único alvo o ataque a civis e levar reféns para Israel”, diz.

Segundo o jornalista, também a nacionalidade das vítimas do ataque dão uma visibilidade mundial a esta ação, que teve lugar no passado sábado.

“Este é outro facto que torna este caso bastante raro [nacionalidade dos reféns], é aqui estamos a falar de 35 nacionalidades, porque há muitos israelitas com dupla nacionalidade”, acrescenta.

Paralelismo com a Guerra do Líbano

“Por exemplo, os Estados Unidos deixaram o Líbano nos anos 80, quando houve um atentado muito violento na altura, em que havia tropas americanas e tropas francesas no Líbano, e Ronald Regan retira, porque não era possível suportar a situação perante a opinião pública americana de cidadãos americanos morrerem no estrangeiro”.

"Isto não só já aconteceu, como pode vir a acontecer. Onde eu digo que não tenho a certeza de que isto poderá acontecer é só num ponto: nós vamos agora assistir a uma outra guerra, que é uma guerra sobre os crimes de guerra.

Porque é que pode acontecer?

O jornalista explica que “quando Israel não cumpre muitas vezes o direito internacional, não está a cumprir no cerco a Gaza e não cumpre as resoluções das Nações Unidas. E, quando vai entrar naquilo que é uma guerra urbana, vai provocar um número de mortes civis e, portanto, nós vamos também assistir por meios de outros órgãos de comunicação social mais próximos do Hamas”.

"O Hamas tem um escritório no estrangeiro. Já foi expulso de vários países e tem um escritório oficial no Qatar e, portanto, a Al Jazeera opera em Gaza, como outras televisões internacionais.

Refugiados: um jogo de hipocrisia

“O Egito, tal como se viu, não quer refugiados de Gaza. Os refugiados palestinianos foram um problema histórico para o Egito, para a Jordânia, para o Líbano, portanto querem a Palestina, mas não querem refugiados. As Nações Unidas estão a dizer para abrirem as fronteiras e o Egito não quer” explica.

“Nos próximos dias, ou nas próximas horas, quando Israel entrar em Gaza, o número de atrocidades, não necessariamente desta natureza, mas mortes civis vão existir”, acrescenta.

Um Hamas “melhor equipado”

Segundo Ricardo Costa, “os países [apoiantes] sabem que vão ter um problema nos próximos dias, perante as suas opiniões públicas, com as imagens que vão chegar de Gaza”.

"O Hamas está muito melhor armado do que estava em 2014 [última ação militar do Hamas em Gaza], a rede de túneis é muito mais sofisticada, eles têm armas antitanques que não tinham na altura, Israel tem tanques próprios para entrar em território urbano, mas como dia ontem a Clara Ferreira Alves basta lembrar a ação militar dos Estados Unidos em algumas cidades do Iraque, nomeadamente em Fallujah”.

“Israel tem no sul de Israel uma cidade recriada apenas para treinar as suas tropas em território urbano. Tem cerca de 60 ou 70 edifícios, porque sabem que a guerrilha urbana é o maior pesadelo que qualquer exército”, acrescentou.

Os ataques

“Normalmente Israel nunca confirma os ataques. Ora, no dia em entrar em Gaza não pode deixar de confirmar, porque obviamente é evidente, vai ser filmado. Estas imagens tem de ser divulgadas e condenadas”, diz.

“O Hamas é um movimento terrorista, que não deseja e nem nunca desejou a paz naquela região, que é contra os acordos de Oslo, e que é contra os acordos de Abraão. A pior coisa que aconteceu à causa palestiniana foi a jihad islâmica e o Hamas, mas atenção, nós agora vamos entrar nunca situação extremamente complicada. Israel vai ter agora provavelmente a sua guerra com o maior número de mortos desde o Yom Kippur”.