Um grupo de eminentes cientistas climáticos de várias instituições do mundo emitiu (mais) um alerta sobre os perigos que pairam sobre nós: as alterações climáticas representam uma "ameaça existencial" para a vida na Terra.
O aviso é feito num relatório, publicado na revista BioScience, em que os cientistas analisaram os fenómenos meteorológicos extremos que aconteceram num espaço de menos de um ano - novembro de 2022 a setembro de 2023.
O estudo examinou 35 "sinais vitais" do planeta, incluindo a poluição por CO2, o consumo de energia e carne por habitante, a desflorestação causado por incêndios e os dias de calor extremo.
Chegaram à alarmante conclusão que 20 desses 35 indicadores atingiram níveis recorde em 2023, nunca antes vistos pela humanidade.
"Estamos genuinamente chocados com a ferocidade dos fenómenos meteorológicos extremos em 2023. Entrámos em território desconhecido que nos assusta", escreveram os cientistas.
Enquanto 2023 está a caminho de se tornar o ano mais quente já registado, regiões inteiras enfrentaram ondas de calor mortais, tempestades e inundações, às vezes sucedendo uma catástrofe após a outra.
No que diz respeito aos oceanos, as temperaturas "estão completamente fora dos padrões" há meses e os cientistas ainda não conseguem explicar completamente esse fenómeno, destaca Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK).
Para estes cientistas, o diagnóstico é claro: "a vida no planeta Terra está em estado de sítio".
A humanidade pouco ou nada faz
Os cientistas declaram que a humanidade fez apenas "progressos mínimos" na redução das emissões de gases de efeito estufa: as concentrações atingiram níveis recorde e os subsídios aos combustíveis fósseis dispararam.
"Devemos mudar a nossa perspetiva sobre a urgência climática, que não é mais um problema ambiental isolado, mas uma ameaça sistémica e existencial", afirma o relatório, a um mês da 28ª conferência climática das Nações Unidas no Dubai.
O objetivo mais ambicioso do Acordo de Paris - limitar o aquecimento a 1,5°C em relação à era pré-industrial - está em risco. Essa meta pode agora ser ultrapassada anualmente, adverte William Ripple, professor da Universidade de Oregon e co-autor do estudo, abrindo caminho para um círculo vicioso de agravamento do aquecimento: derretimento das calotas polares, desflorestamento, descongelamento dos depósitos de carbono no permafrost, extinção de corais, …
"Uma vez ultrapassados, estes pontos de inflexão podem alterar o nosso clima de uma maneira difícil, senão impossível, de reverter", alertam os cientistas..
São já poucos os cantos do mundo que podem dizer que não sentem as consequências das alterações climáticas. Dos violentos fogos na Califórnia e na Austrália, ao degelo no Ártico e na Antártida, às inundações sem precedentes na Europa e na China, a verdade é inegável. O que acontece no planeta se as temperaturas aumentarem mais do que 1,5ºC, 2ºC ou 4ºC?