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Entrevista SIC Notícias

Ataque a hospital de Gaza: "Temos estado todos os dias a assistir a uma guerra de propaganda"

Para o comandante João Fonseca Ribeiro, do Observatório de Segurança e Defesa da Sedes, "a utilização dos hospitais por parte do Hamas não é inédita", mas Israel "está debaixo de um enorme escrutínio necessário" e precisa de "encontrar elementos de prova que justifiquem uma intervenção".

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Mais de 30 bebés prematuros e em estado critico foram retirados do maior hospital de Gaza. Chegaram esta manhã ao Egipto para receber cuidados médicos urgentes. A equipa da OMS que liderou a retirada do Hospital Al-Shifa diz que todos sofrem de infeções graves. O Hamas assegura que o hospital foi bombardeado nas últimas horas e que morreram pelo menos 12 pessoas. Para o comandante João Fonseca Ribeiro, do Observatório de Segurança e Defesa da Sedes, "a utilização dos hospitais por parte do Hamas não é inédita", mas Israel "está debaixo de um enorme escrutínio necessário" e precisa de "encontrar elementos de prova que justifiquem uma intervenção".

João Fonseca Ribeiro sublinha que "temos estado todos os dias a assistir a uma guerra de propaganda, de uma situação perante a outra".

"A utilização dos hospitais na Faixa de Gaza por parte do Grupo Hamas não é inédita", lembra o comandante. E cita exemplos de 2019 e 2016, ainda sob investigação do Tribunal Penal Internacional das Nações Unidas, onde está em causa "a acusação ao grupo Hamas como tendo levado a cabo tortura a cidadãos palestinianos tidos como eventuais colaboracionistas de Israel, e a tortura terá tido lugar no próprio Hospital Al-Shifa".

"Há um histórico da utilização por parte do Hamas das instalações hospitalares, não só na perspetiva administrativa", acrescenta.

No entender de João Fonseca Ribeiro, cabe agora a Israel "encontrar elementos de prova que justificam uma intervenção, a outra questão é a ação em si, a dimensão da ação em si, os efeitos colaterais que provoca e obviamente que aqui Israel está debaixo de um enorme escrutínio necessário, no sentido de que a sua ação não possa ser desproporcional e de facto estamos aqui perante aquilo que pode ser uma análise tida como uma enorme desproporcionalidade e aquilo que pode ser uma argumentação por parte de Israel para contrariar essa circunstâncias".

O representante do Observatório de Segurança e Defesa da Sedes aponta para a existência de infraestruturas subterrâneas que fazem a comunicação entre várias posições, “uma estrutura dirigente instalada no próprio hospital, que no fundo faz a gestão do movimento de reféns, é pelo menos um centro logístico de direção de alguns objetivos do Hamas”.

Contudo, “a partir do momento em que as forças israelitas estabelecem o controle do hospital, não podem deixar de de de assumir uma responsabilidade muito maior. A partir do momento em que isso ocorre, os doentes que estão nesse hospital têm que estar sujeitos à capacidade do cuidado que Israel neste momento tem que oferecer aos palestinianos em necessidade”, refere João Fonseca Ribeiro.