A comentadora SIC Clara Ferreira Alves analisou, esta quarta-feira, os últimos desenvolvimentos no acordo entre Israel e o Hamas. Este prevê, numa primeira fase, a libertação de 50 reféns israelitas e 150 prisioneiros palestinianos durante quatro dias. Para Clara Ferreira Alves devemos pensar o “quão estranho é estarmos a falar do resgate de crianças de meses”.
Quais são os reféns?
“O chefe da Mossad viajou hoje para o Qatar, para saber os nomes. Não serão todas as mulheres, mas serão pelo menos crianças. E temos de pensar dois segundos quão estranho é estarmos a falar do resgate de crianças de meses, ou de dois e três anos de anos. O quão absurdo e violentíssimo isto é e quão fora de todas as operações de resgate isto”, explicou.
No momento do resgate, ou logo após a libertação dos reféns, a Cruz Vermelha vai verificar o estado de saúde de todos, sobretudo dos bebés e das crianças
“Eu creio que Mohammed Deif [líder do Hamas] não tem nenhum interesse neste acordo, mas o Qatar é quem manda, é o grande financiador, portanto vamos ver se há última hora não acontece nada”, afirmou.
Libertação de prisioneiros
A comentadora SIC esclareceu que este acordo está a ser feito de forma muito mais ágil do que o habitual. "Neste momento é feito muito rapidamente - costuma demorar meses”.
“Os prisioneiros libertados vão depois para Jerusalém oriental - de onde vieram - outros para a Cisjordânia, e outros vão ser despejados na faixa ou no norte de Gaza - estes últimos quando o cessar-fogo ou a pausa terminar estarão em perigo", contou Clara Ferreira Alves.
Intervenções externas: EUA e Qatar
“Penso que a administração de Biden, que foi muito encostada à parede pelos democratas que não aceitam a continuação do que está a acontecer em Gaza, tentou tudo para conseguir este acordo. O próprio Biden está pessoalmente envolvido neste acordo”, explicou.
Estamos aqui a ver o Qatar e os Estados Unidos são os principais atores externos, mas não são assim tão externos, para conseguir isto.
“Vamos ter ajuda humanitária seguramente a entrar, se isto não correr mal, eu penso que não vai correr mal dentro das limitações”, finalizou.
Estratégia militar de Israel
Clara Ferreira Alves esclareceu que “a estratégia militar” do ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, “é pressionar militarmente o Hamas para libertação de todos os reféns. Se isto é ou não possível, não sei, mas se o Hamas libertar todos os reféns nada se interporá entre Israel e o Hamas”.
“Israel não vai desistir de destruir o Hamas, nem Israel nem os Estados Unidos. Bernie Sanders escreveu que o Hamas tem de ser destruído - Bernie Sanders que é o homem da esquerda dos democratas”, explicou.
“Acho que o Hamas vai propor [libertações] sempre via Qatar, que é onde está o chefe da Mossad e o chefe da CIA, libertar mais reféns e mais pausas humanitárias. Israel vai ter de decidir quantos reféns e quanto tempo podem estas pausas durar”
"O que vai acontecer a Gaza no fim disto"?
Clara Ferreira Alves deixou uma questão: “Há dois milhões de pessoas que provavelmente vão ficar desalojadas, ou pelo menos deslocadas. Para onde é que esta gente vai? A pobre autoridade palestina vai reinar sobre este mundo? Com quem, com que líderes?”.
“Há aqui fatores históricos e ideológicos pesadíssimos. [...] Há aqui um fator de violência íntima muito grande, de vulnerabilidade, e é muito difícil depois de um ataque com estas dimensões, barbaridade, fazer uma paz quando o próprio Hamas nem sequer tem uma estratégia clara”, mencionou a comentadora, sobre um possível acordo definitivo entre Israel e o Hamas.