Mundo

Análise

“Solução de dois Estados vai acontecer, mas ainda vai demorar algum tempo”

Mónica Dias, comentadora SIC, faz uma análise ao endurecimento das posições de Israel e do Hamas e das negociações que decorrem nos bastidores.

Loading...

O exército israelita intensificou as operações contra o grupo islamita Hamas no sul de Gaza, onde testemunhas relataram violentos combates, fazendo temer um "cenário ainda mais infernal" para os civis, segundo a ONU. A comentadora da SIC Mónica Dias considera que era expectável Israel endurecer os ataques depois das tréguas temporárias, acredita que o Hamas vai ser destruído e serão constituídos dois Estados.

Depois da pausa humanitária, Israel deixou muito claro que não vai parar enquanto não aconteceram duas coisas: todos os reféns têm que regressar a casa e o Hamas tem que ser eliminado no sentido de não constituir qualquer perigo para a população de Israel.

“Estamos perante um dilema que é muito difícil de solucionar. As últimas declarações do Hamas são precisamente que só irá entregar os reféns no momento em que houver um fim da guerra. Estamos perante duas situações aparentemente inconciliáveis, duas posições muito, muito duras, de um e de outro lado e com muitas negociações, negociações essas que não estamos a ver, de bastidores, mas que são muito importantes, precisamente para conseguir encontrar aqui uma solução alternativa, porque este endurecimento está a tornar-se insustentável”.

Organizações humanitárias no terreno, algumas da ONU, outras não, “todas relatam a absoluta dificuldade de conseguir acorrer aos muitos feridos aos doentes, a alimentação, a eletricidade. Tudo isso está a ficar cada vez mais complicado. Não esquecer também que estamos a aproximar-nos no Inverno. As temperaturas, mesmo nesta zona, são muito diferentes das das nossas”.

“A população está a sofrer muitíssimo na Faixa de Gaza e, portanto, parece-me que também este plano de Israel de que agora ouvimos de afundar os túneis e que poderia trazer aqui uma alternativa para o combate de armas também muito, muito problemático, porque em primeiro lugar, esse processo iria demorar semanas e também não garante depois a solidez do próprio Sul e o próprio abastecimento de água da população na Faixa de Gaza”.

Portanto, parece-me que todas as soluções que podem ser encontradas trazem novos dilemas, trazem mais sofrimento ainda e, portanto, a única via que, pelo menos na minha perspetiva, traz alguma esperança são as negociações e a diplomacia que está a decorrer nos bastidores

O Presidente de Israel disse que há a possibilidade da criação de um Estado palestiniano desde que o Hamas não esteja no poder.

“O Hamas vai ser destruído. Israel não vai parar enquanto não destruir”.

"No entanto, o terrorismo não se consegue combater, o terrorismo é um ódio, é algo que nasce a partir de condições de vida completamente difíceis e inaceitáveis, sem dignidade. E é a partir daí que são recrutados os ódios e aqueles que militarmente depois se envolvem também em massacres. Provavelmente, este terrorismo vai ter outra organização, vai ter outro nome, vai talvez alinhar-se um pouco mais com o Governo da Cisjordânia, com as autoridades palestinianas e, portanto, vamos talvez ter aqui outro nome e aí sim, podemos ter uma solução de dois Estados que vai acontecer, mas ainda vai demorar algum tempo”.