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Macron defende que Gérard Depardieu está a ser vítima de "caça ao homem"

O Presidente francês defendeu que o ator de “Asterix e Obelix” está a ser vitima de perseguição, devendo ser “respeita a presunção de inocência”. Em contrapartida, várias personalidades afirmam que estão desapontadas com Macron.

Macron defende que Gérard Depardieu está a ser vítima de "caça ao homem"
Fermin Rodriguez

O Presidente francês considerou, esta quarta-feira, que o ator Gérard Depardieu está a ser vítima de uma “caça ao homem” e que a condecoração da Ordem Nacional da Legião de Honra não lhe será retirada, a não ser que o ator seja condenado judicialmente após denúncias de abuso sexual. Acrescentou ainda que o ator “é um génio da arte” e que “tornou a França conhecida em todo o mundo”.

Em entrevista no programa televisivo “C à vous” do canal France 5, Emmanuel Macron insiste em respeitar a presunção de inocência e o procedimento legal que visa o ator acusado de abuso e agressão sexual, afirmando que “nos nossos valores, existe a presunção de inocência. Eu detesto as caças ao homem”.

"Temos de ter cuidado com os excessos […] haverá sempre artistas transgressores. Temos que respeitar um pouco as nossas regras”, afirmou o chefe de Estado de França.

O Presidente francês afirmou que os “procedimentos legais seguem o seu caminho"

"Sou um grande admirador de Gérard Depardieu, um ator imenso. Um génio do cinema e da arte. Deu a conhecer a França, os nossos grandes autores, os nossos grandes personagens […] deu a conhecer a França. Isto não se baseia num relatório (em referência ao programa Complément d'investigation de quinta-feira, 7 de dezembro de 2023, na France 2, no qual o ator multiplica os comentários misóginos e insultuosos ao dirigir-se às mulheres) que a Legião de Honra é tirada de um artista”, acrescentou.

Finalizou dizendo que "continuará a lutar", mas que quer "seja feito na direção certa”.

O ator recebeu a Legião de Honra, a mais elevada condecoração de mérito atribuída por França, das mãos de Jacques Chirac em 1996.

Ministra da Cultura avança com “processo disciplinar"

Os comentários de Macron aconteceram no mesmo dia em que ministra da Cultura, Rima Abdul Malak, anunciou, no mesmo canal televisivo, que será iniciado um processo disciplinar pela Grande Chancelaria da Legião de Honra contra a estrela de cinema.

Esta investigação acontece no seguimento das várias denúncias de abusos sexuais alegadamente cometidas pelo ator e do documentário onde, mais recentemente, é ouvido a fazer comentários obscenos e a sexualizar uma rapariga de 10 anos.

As críticas multiplicam-se

Esta quinta-feira o canal britânico BBC avançou que Andrine Rousseau, deputada francesa do Partido Verde, disse que o presidente insultou vítimas de violência sexual ao defender o ator.

À rádio francesa disse: “Alguém que sexualiza uma criança de 10 anos não deixa um país orgulhoso”.

Também Raphaëlle Rémy-Leleu, conselheira dos Verdes em Paris, disse que, a menos que Depardieu seja responsabilizado, as vítimas de agressão sexual "nunca significarão tanto quanto a suposta reputação de um homem".

Ela disse que o presidente está a dececionar as mulheres francesas, sobretudo quando o Presidente Macron afirmou anteriormente que a igualdade de género seria a sua “grande causa”.

A presidente da associação de juristas Lawyers for Women, Michelle Dayan, afirmou que “há acima de tudo uma caça às mulheres. São palavras escolhidas deliberadamente para falar aos homens”.

Vários grupos feministas disseram que estão desapontados com os resultados dos mandatos de Emmanuel Macron.

Um relatório publicado em 2022 afirmou que as suas políticas eram “insuficientes” e não conseguiram transformar um “sistema profundamente sexista”.