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"Milagre" no Japão: como é que todos saíram ilesos do A350 em chamas?

O treino e excelente desempenho da tripulação são apontados como cruciais para este desfecho, sem vítimas mortais no Airbus da Japan Airlines. A bordo do A350, que colidiu com um avião da Guarda Costeira, seguiam 379 pessoas.

"Milagre" no Japão: como é que todos saíram ilesos do A350 em chamas?
ISSEI KATO

A Airbus vai enviar uma equipa de especialistas para participar nas investigações sobre a colisão de um A350 da Japan Airlines (JAL) com uma aeronave da Guarda Costeira, no aeroporto de Haneda, em Tóquio. O acidente aconteceu esta terça-feira e causou a morte de cinco dos seis ocupantes do avião da Guarda Costeira. No A350, que em poucos minutos se transformou numa "bola de fogo", seguiam 379 pessoas que de forma surpreendente saíram ilesas. O treino e excelente desempenho da tripulação são apontados como cruciais para este desfecho, sem vítimas mortais entre os que seguiam no Airbus da JAL.

Satoshi Yamake, de 59 anos, era um dos passageiros do A350, regressava a Tóquio onde trabalha na área das telecomunicações, depois de uma visita à família.

À agência Reuters, Yamake conta que apesar de algumas pessoas terem ficado muito ansiosas, a tripulação rapidamente deu início à retirada dos passageiros, o desembarque começou de imediato e de forma ordeira.

A colisão aconteceu praticamente no mesmo momento em que o Airbus da JAL tocou a pista de aterragem. Yamake seguia na frente do avião, mergulhado nos seus pensamentos, quando se apercebeu de que algo de grave estava a acontecer.

O interior do avião começou rapidamente a encher-se de fumo e ouviu-se uma mulher e uma criança a gritarem: “Por favor, tirem-me daqui”, "porque é que não abrem a porta?"

“Só posso dizer que foi um milagre”

"Pensei mesmo que ia morrer", conta outro passageiro, Tsubasa Sawada, de 28 anos, que regressava de Sapporo, onde tinha ido visitar a namorada.

"Depois da colisão, ainda sorri quando vi algumas faíscas a saírem do motor, mas rapidamente tomei consciência de que a situação era complicada", conta Sawada à Reuters.

O pessoal de bordo começou de imediato a acalmar os passageiros e pediu: "Por favor, ajudem".

As imagens mostram que os passageiros começaram as sair pelas portas de emergência sem qualquer bagagem de mão, facto que terá sido decisivo na rápida retirada dos passageiros.

O tempo de ir buscar os pertences, mesmo que possam ser apenas escassos minutos, pode ser o suficiente para salvar vidas. Estas são as indicações repetidas há anos pelas agências de segurança aérea, mas que em situações de pânico são muitas vezes esquecidas.

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"O pessoal de cabine fez um excelente trabalho. Não se vê ninguém com bagagem. Foi um milagre todos os passageiros terem saído ilesos", disse à Reuters Paul Hayes, consultor de aviação britânico.

Sawada conta que cerca de 10 minutos depois do desembarque de todas as pessoas a bordo do A350, houve uma explosão no avião.

"Só posso dizer que foi um milagre, teríamos morrido se tivéssemos demorado mais tempo", admite Sawada e acrescenta: "Quero saber porque é que isto aconteceu e sinto que não quero voltar a entrar num avião".

Equipa bem treinada: “É mais difícil do que qualquer um possa imaginar”

Em declarações à britânica BBC, uma antiga hospedeira de bordo da Japan Airlines considerou que os passageiros deste voo tiveram "uma sorte incrível".

"Senti-me aliviada quando soube que todos os passageiros tinham sido retirados em segurança. Inicialmente, quando pensei em todos os procedimentos de segurança necessários em situações como esta, fiquei nervosa e com medo", admite a ex-funcionária da JAL.

"O que eles conseguiram fazer é mais difícil do que qualquer um possa imaginar. O facto de terem conseguido retirar com êxito todas as pessoas é resultado de uma boa coordenação, que levou todos os passageiros a seguirem as instruções", explica.

A antiga hospedeira, que preferiu não revelar a identidade, conta que todos os que entram na JAL têm três semanas de treino de evacuação e resgate antes de serem autorizados a começar a trabalhar. Exercícios de treino e simulação são praticados anualmente.

"Temos de fazer exame escrito, discutimos casos e temos sessões práticas que simulam diferentes cenários, como a eventual necessidade de fazer uma amaragem ou a evacuação de um avião em chamas. Todo o pessoal de voo está envolvido nestas simulações", conta.

A antiga funcionária que deixou a JAL há cerca de 10 anos não tem dúvidas de que o treino rigoroso foi decisivo para o sucesso da operação. Um piloto da companhia South East Asian é da mesma opinião.

"Tenho de dizer que foi extraordinário. Penso que este é um caso em que o treino funcionou. Nestas situações, não há tempo para pensar, fazes o que estás treinado para fazer", considerou, em entrevista à BBC.

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Airbus envia especialistas a Tóquio

Um grupo de especialistas da Airbus vai ajudar as autoridades encarregadas da investigação sobre o acidente, a Comissão de Segurança nos Transportes do Japão e o Gabinete de Investigações e Análises para a Segurança da Aviação Civil de França, indicou em comunicado o construtor aeronáutico europeu.

O Airbus da Japan Airlines procedente de Sapporo, no norte do Japão, embateu, ao aterrar no aeroporto de Haneda, com um avião DHC-8 da Guarda Costeira, de cujos seis ocupantes apenas sobreviveu o piloto, com ferimentos graves.

Até agora não são conhecidas as circunstâncias exatas do que aconteceu, refere também o comunicado. O A350, registado com o número JA13XJ, tinha sido entregue á companhia japonesa a 10 de novembro de 2021.