A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertou hoje que as ordens de retirada e bombardeamentos perto dos hospitais de Gaza deixam "poucas opções" de cuidados de saúde para os civis", frisando que são escassos os "locais seguros".
"Nos últimos três meses, o ataque das forças israelitas à Faixa de Gaza diminuiu drasticamente as opções para as pessoas encontrarem cuidados médicos", lê-se num comunicado dos (MSF) divulgado hoje.
De acordo com o mesmo documento, os espaços seguros para as organizações prestarem cuidados de saúde aos civis são praticamente inexistentes, acrescentando que as constantes ordens de retirada, evacuações e os ataques a instalações de saúde forçaram repetidamente os organismos como os Médicos Sem Fronteiras a abandonarem hospitais.
"Estamos a ser gradualmente encurralados num perímetro muito restrito no sul de Gaza, em Rafah, com cada vez menos opções para oferecer assistência médica, enquanto as necessidades aumentam desesperadamente", refere Thomas Lauvin, coordenador de projeto dos MSF em Gaza.
"À medida que o ataque a Gaza progrediu, tivemos que evacuar várias instalações de saúde no norte de Gaza e depois na área central". disse indicando que as equipas estão limitadas ao sul do enclave. (...) Em suma, estamos a ficar sem hospitais. Somos obrigados a deixar os doentes para trás", lamenta Lauvin.
O sistema de saúde em Gaza está em colapso, sendo que apenas 13 dos 36 hospitais estão parcialmente operacionais: nove no sul e quatro no norte, segundo a Organização Mundial de Saúde. Os dois principais hospitais do sul de Gaza estão a funcionar com o triplo da capacidade de camas e estão a ficar sem produtos básicos e sem combustível.
Enrico Vallaperta, responsável pelos projetos da MSF em Gaza, diz que abandonar Al-Aqsa foi uma decisão "devastadora", indicando que os ataques de drones, os disparos de franco atiradores e bombardeamentos nas proximidades do hospital tornaram o espaço muito inseguro para trabalhar.
Em novembro, o hospital Al-Shifa, o maior de Gaza (norte do enclave), foi atingido e o pessoal médico foi obrigado a retirar-se. Em seguida, o hospital Al Awda, hospital parceiro dos MSF desde 2018, foi atingido, e três médicos foram mortos. O mesmo está a repetir-se no sul de Gaza, que alberga cinco vezes mais pessoas do que antes da guerra e onde existem menos locais para prestar cuidados de saúde aos civis.
Além dos ferimentos graves, muitas mulheres submetidas a parto por cesariana têm alta apenas seis horas depois do nascimento para darem lugar a outras mulheres grávidas, enquanto outras são simplesmente rejeitadas e dão à luz em tendas. A MSF refere ainda que "continua empenhada" em garantir cuidados médicos em Gaza e apela à proteção dos hospitais, do pessoal médico e dos pacientes.
A MSF reforça o apelo em relação a um cessar-fogo imediato que poupe a vida de civis, restaure o fluxo de assistência humanitária e restabeleça o sistema de saúde do qual depende a sobrevivência da população de Gaza.