O ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) israelita disse esta segunda-feira que decidiu participar na reunião com os homólogos europeus para discutir a libertação dos reféns e o desmantelamento do Hamas.
"Estou cá para me encontrar com os meus colegas e discutir principalmente duas questões: recuperar os nossos reféns (...), e desmantelar a organização terrorista que é o Hamas", disse Israel Katz, à entrada para a reunião.
Ilha artificial, a solução de Israel
O ministro Israel Katz explicou, de acordo com o The Guardian, que o plano já tem alguns anos e na prática levaria a que os palestinianos deixassem Gaza e fossem realojados numa ilha artificial no Mar Mediterrâneo.
Katz falou ainda dos reféns do Hamas e insistiu que é importante combater o grupo islamita.
“[Temos] de ajudar Israel a desmantelar a organização terrorista Hamas, que atacou Israel de forma brutal, e nós temos de recuperar a nossa segurança. Os nossos corajosos soldados estão a lutar em condições difíceis por estes dois objetivos, para trazer de volta os nossos reféns e restaurar a segurança dos cidadãos de Israel”, vincou.

Há países europeus desapontados
A União Europeia enviou um documento de reflexão aos estados-membros, sugerindo um roteiro para a paz no conflito Israel-Hamas, fazendo um apelo a uma "conferência de paz preparatória" a ser organizada pela União Europeia, Egito, Jordânia, Arábia Saudita e Liga dos Estados Árabes. Os EUA e a ONU também foram convidados a participar na reunião, tal como os líderes de Israel e Palestina.
Um dos principais objetivos é a criação de um Estado palestiniano independente, "vivendo lado a lado com Israel em paz e segurança".
Benjamin Netanyahu comunicou aos Estados Unidos que é contra a criação de um Estado palestiniano em qualquer cenário de pós-guerra e acredita que essa solução põe em risco a segurança nacional.
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Cravinho, insiste que a solução dos dois estados é a única via possível para acabar com o conflito no Médio Oriente e lamenta a posição de Netanyahu, assim como outros países europeus.
"Dizer que é contra significa, muito francamente, dizer que é contra a paz e, por isso, eu disse ao meu colega israelita que a nossa expectativa é que o primeiro-ministro israelita reveja a sua posição e que seja que tenha uma abordagem construtiva em relação à paz e não uma abordagem de bloqueio", adiantou.

As "ideias líricas" para a paz em Gaza apresentadas por Katz, que de acordo com Cravinho não "estava preparado" para dialogar, assentes numa ilha que serviria como "plataforma logística".
"Aquilo que o ministro israelita [dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz] nos apresentou foi um plano - que não é de transferência da população de Gaza -, para a criação de uma ilha que permitiria, a três ou quatro quilómetros da costa de Gaza, criar uma plataforma logística para a paz, uma plataforma logística que alimentaria tanto Israel como Gaza", declarou João Gomes Cravinho.
A solução dos dois Estados é “a única possível, a única viável”
O chefe da diplomacia portuguesa indicou ter dito ao ministro israelita, à semelhança de outros governantes comunitários, que "não vale a pena trazer ideias líricas sobre o futuro de paz e harmonia se não houver disponibilidade no imediato [de Telavive] para trabalhar para o reconhecimento dos direitos palestinianos, que estavam inteiramente ausentes" do plano apresentado.
"São ideias que neste momento são completamente irrelevantes se não tiverem em conta o contexto e o reconhecimento do Estado da Palestina e dos direitos dos palestinianos", reforçou Cravinho, para quem "não há possibilidade nenhuma" de tal plano avançar.
"Isso foi dito de diversas maneiras. De formas mais diplomáticas, de formas menos diplomáticas, toda a gente reconheceu isso à volta da mesa e talvez até tenha havido alguma frustração por estarmos a perder tempo com ideias que não são adequadas ao tempo de urgência que vivemos em relação aos comentários recentes", adiantou o governante.
Para o ministro português da tutela, Israel Katz "não estava em condições" de dialogar com os homólogos europeus.
"Talvez por ser a primeira vez que trabalha com a União Europeia, não nos pareceu preparado para responder a questões fundamentais, como sejam a que como se pode avançar para a solução de dois Estados e como é que se pode parar com a violência dos colonos na Cisjordânia", elencou.
Com LUSA