A jornalista iraniano-americana Masid Alinejad publicou um vídeo a 24 de janeiro a anunciar que vai iniciar uma greve de fome em protesto contra a recente execução de um manifestante, mas também em solidariedade com detidos que estão no corredor da morte.
O Irão executou na terça-feira um homem acusado de matar um policia e ferir outros cinco quando os atropelou com um carro durante os protestos nacionais desencadeados em 2022.
“Depois de ser confirmada pelo Supremo Tribunal, a pena de morte contra o réu Mohammad Ghobadlou foi implementada esta manhã”, informou agência de notícias oficial Mizan a 23 de fevereiro.
Além da pena de morte por homicídio, Ghobadlou também recebeu pena de morte por “corrupção na terra”.
No entanto, a Amnistia Internacional disse que o direito de Ghobadlou a um julgamento justo foi violado e que a sua condição de doente bipolar não foi tida em consideração pelo sistema judicial iraniano.
A jornalista Masid Alinejad junta-se ao protesto iniciado por 61 mulheres presas políticas do Irão, que estão a planear iniciar hoje, 25 de janeiro, uma greve de fome "para mostrar a sua solidariedade não só com Mohammad Ghobadlou, manifestante de 23 anos que foi enforcado, mas para mostrar o seu apoio e solidariedade com todos os presos políticos que estão no corredor da morte neste momento, e as suas famílias estão preocupadas com a possibilidade de serem enforcados muito em breve''.
Nona execução desde as manifestações de 2022
Mohammad Qobadlu foi enforcado a 23 de janeiro na prisão de Ghezel Hesar na cidade de Karaj, perto de Teerão.
Tinha sido condenado pela morte de um polícia, durante os protestos nacionais de 2022 após a morte da jovem Mahsa Amini, detida por usar incorretamente o lenço na cabeça.
Foi a nona execução desde os protestos, de acordo com uma contagem efetuada pela Associated Press (AP).
Uma reportagem na televisão estatal iraniana disse que Qobadlu foi executado após ter sido condenado por matar um polícia e ferir outros cinco, quando os atropelou no seu carro durante uma manifestação na cidade de Parand, perto da capital Teerão.
Segundo a reportagem televisiva, Qobadlu, de 23 anos, que confessou o crime, teve acesso a um advogado durante o julgamento. Qobadlu tinha recorrido da sua sentença de morte, proferida por um tribunal de primeira instância, mas o Supremo Tribunal confirmou posteriormente o veredicto original.
Um grupo de peritos da ONU declarou-se "alarmado" com os relatos de processos judiciais injustos no Irão, incluindo o que, segundo eles, foi a negação do acesso a advogados.
O advogado de Qobadlu, Amir Raisian, disse numa mensagem na rede social X (antigo Twitter) que o veredicto e a sentença vieram apesar dos seus esforços para apelar a outro julgamento para o seu cliente. Segundo Raisian, a execução poderia ser caracterizada como "assassínio".
Morte de Mahsa Amini e protestos nacionais
A agitação que durou meses seguiu-se à morte sob custódia, em 16 de setembro de 2022, de Mahsa Amini, uma mulher de 22 anos que tinha sido detida pela polícia moral do Irão, alegadamente por não usar de forma correta o véu islâmico obrigatório (hijab).
Pelo menos 529 pessoas foram mortas e muitos milhares foram detidas durante as manifestações. Os protestos abrandaram gradualmente nos primeiros meses do ano passado.
Outras execuções
Em dezembro, o Irão executou um guarda bancário condenado por ter morto um clérigo em abril passado. O Ayatollah Abbas Ali Soleimani, de 77 anos, foi o membro mais antigo do clero morto desde os protestos e a subsequente repressão dos manifestantes por parte das autoridades. O motivo do tiroteio com o guarda não foi explicado.
Embora o clero xiita tenha desempenhado durante muito tempo um papel importante no Irão, sobretudo após a Revolução Islâmica de 1979, o descontentamento aumentou nos últimos anos durante as vagas de protestos sobre questões económicas, políticas e de direitos civis.
Em novembro, o Irão enforcou Milad Zhohrevand, de 21 anos, na cidade ocidental de Hamadan, por ter disparado e matado um membro da Guarda Revolucionária durante os protestos.
Separadamente, na terça-feira, o Irão enforcou Farhad Salimi, um clérigo curdo que tinha passado 14 anos atrás das grades por causa do assassinato de outro clérigo, informaram grupos de defesa dos direitos humanos.