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Portugal vai apoiar reconstrução de escolas na Ucrânia destruídas pelo "horror" russo

O ministro da Educação recordou que esta iniciativa partiu das autoridades ucranianas, que confiaram a Portugal a reconstrução do Liceu 25, para que "seja o embrião de uma reforma do projeto educativo".

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O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, afirmou, esta segunda-feira, que a condecoração que lhe foi atribuída pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é um agradecimento ao apoio de Portugal às autoridades de Kiev contra a invasão russa.

"A condecoração que o Presidente Zelensky me outorgou deve ser entendida como um agradecimento a Portugal por aquilo que Portugal tem feito e por aquilo que os portugueses sentem em relação à Ucrânia", afirmou aos jornalistas João Gomes Cravinho, que hoje chegou à capital ucraniana para uma visita de dois dias.

Na véspera de se avistar com Zelensky, num momento em que é esperado que lhe seja entregue a condecoração concedida no início do mês, e também com o seu homólogo ucraniano, Dmytro Kuleba, o chefe da diplomacia reiterou o "fortíssimo compromisso dos portugueses" em relação ao apoio à Ucrânia na resposta à invasão russa, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, e que é sustentado nas sondagens.

"Estamos a fazê-lo, estamos a fazê-lo politicamente, estamos a fazê-lo militarmente e financeiramente", declarou o ministro, lembrando também o acolhimento de mais de 60 mil refugiados desde a data da invasão e reafirmando o apoio de Portugal a Kiev "pelo tempo que for necessário, enquanto se defende da agressão russa".

Portugal declara compromisso total com escola destruída pelo "horror" russo

O ministro da Educação declarou compromisso total de Portugal na recuperação duma escola em Jitomir, que espelha "o horror" da destruição causada pela invasão russa da Ucrânia, e que será "o embrião de um projeto educativo".

João Costa destacou a importância de que a recuperação do Liceu 25, destruído em março de 2022 por um bombardeamento aéreo no início da invasão russa, não seja uma mera reconstrução de paredes e que esteja alinhada com "um projeto educativo europeu moderno", afastado de uma visão "muito fechada de escola que era ainda a herança soviética".

"É um horror que mostra bem [o que acontece] quando há ataques a alvos civis, escolas em particular", comentou aos jornalistas João Costa, perante o cenário do estabelecimento de ensino arrasado pelos bombardeamentos russos, que naquele dia visaram também uma unidade especial do exército ucraniano, atingindo igualmente um hospital e uma maternidade e provocando, de acordo com as autoridades locais, quatro mortos num mercado nas imediações.

O ministro da Educação recordou que esta iniciativa, cujo memorando de entendimento foi hoje assinado durante o Fórum de Jitomir, partiu das autoridades ucranianas, que confiaram a Portugal a reconstrução do Liceu 25, para que "seja o embrião de uma reforma do projeto educativo".

João Costa deixou a promessa de "compromisso total" em relação "a este projeto de monta, que vai reconfigurar todo o espaço escolar", não só na reabilitação do edifício atingido como noutras infraestruturas, como espaços culturais, com vista a que se obtenha "uma escola nova em termos de paredes e de projeto educativo".

O ministro não se comprometeu com datas, ressalvando que "há em contextos destes sempre muitos imponderáveis", iniciando-se agora o processo de contratação pública para que a reconstrução seja executada "o mais rapidamente possível".

A ideia é ainda multiplicar este tipo de iniciativas, no quadro de um projeto da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) chamado "Aprender durante a crise", e que, segundo explicou o ministro, procura "pensar para o futuro sistemas educativos resilientes" em contextos adversos.

Durante o Fórum de Reconstrução de Jitomir, João Costa defendeu que, num projeto educativo, "é muito importante seguir os valores da democracia", que têm a ver com o envolvimento da comunidade, "não tem a ver com individualismo, não tem a ver com invasões".

O Liceu 25 continua hoje praticamente como se encontrava no início de março quando foi visitado pela Lusa, poucos dias após o bombardeamento, que arruinou três pisos do edifício, mas não causou vítimas graves porque as aulas já estavam suspensas desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022.

Alguns residentes num prédio vizinho ficaram feridos com os estilhaços das janelas partidas e metade da escola ficou destruída.

Num raio de cerca de 30 metros, até ao limite de uma igreja protestante que escapou incólume, o solo continua coberto por uma camada de tijolos de cimento projetados pela explosão.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Educação portugueses chegaram hoje de manhã a Kiev para uma visita de dois dias, ao longo da qual dedicaram a agenda de hoje ao setor educativo em Jitomir e, na terça-feira, serão recebidos pelo Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e manterão reuniões com os seus homólogos.

- Com Lusa