Stormy Daniels está perto de conseguir o que até aqui parecia impossível. Pela primeira vez na história do país, um ex-presidente dos Estados Unidos é alvo de um processo criminal e vai mesmo a julgamento. Atualmente na corrida pela Casa Branca, a candidatura de Donald Trump, acusado de 34 crimes de falsificação de documentos, está em risco.
Stormy, estrela do cinema para adultos
Stephanie Clifford ou Stormy Daniels, nome artístico pelo qual é conhecida na indústria, é natural de Baton Rouge, no estado norte americano do Louisiana. Negligenciada pelos pais, apenas com 9 anos foi abusada sexualmente.
Num livro publicado em 2018, intitulado "Full Disclosure", a mulher de 44 anos contou que ainda andava no liceu quando começou a sustentar-se, trabalhando em clubes de strip-tease. Pouco depois, estreava-se como atriz pornográfica, onde trabalhou mais de 20 anos.
O caso amoroso com Donald Trump
Tudo terá começado em 2006. Na altura, passava apenas um ano do casamento do multimilionário com Melania Trump.
Segundo a atriz, a primeira vez que conheceu o empresário foi durante um torneio de Golf entre celebridades em que, posteriormente, Trump a convidou para jantar na suite do hotel onde estava hospedado na Califórnia. Sabendo das ambições de Stormy, o antigo presidente dos Estados Unidos terá perguntado se a atriz gostaria de participar no programa "Celebrity Apprentice", apresentado e co-produzido por Trump, acompanhando o convite de vários elogios.
A certa altura, Stormy Daniels terá ido à casa de banho, e foi à saída que foi seduzida por Donald Trump, com quem acabou por se envolver sexualmente, de forma consensual.
Um ano mais tarde, Trump marcou um novo encontro com a atriz num hotel em Beverly Hills, em Los Angeles, com o pretexto de acertarem os detalhes para a possível entrada de Stormy num dos episódios do programa. Durante a reunião, o empresário terá manifestado vontade de voltar a ter relações sexuais com a atriz, que recusou. Um mês depois, Trump contactou Stormy e disse-lhe que ela não ia ser incluída no programa.
O preço do silêncio
Dias antes da eleição que o tornaria presidente dos Estados Unidos, em 2016, Donald Trump instruíu o seu advogado a formular um acordo de confidencialidade destinado a Stormy Daniels. O objetivo seria silenciar a atriz quanto ao fugaz relacionamento de ambos, através do pagamento de 130 mil dólares, cerca de 120 mil euros, pago em prestações de 35 mil dólares mensais. O pacto foi assinado apenas pelos advogados, sendo que o espaço para a rubrica de Trump nunca chegou a ser preenchido.
Em 2018, a história chegava à capa do The Wall Street Journal. O advogado de Donald Trump, Michael Cohen, começou por dizer que havia pago o suborno com o próprio dinheiro e que o multimilionário nada sabia do assunto. Versão que manteve até ser confrontado em tribunal, onde acabou por admitir, não só que foi instruído por Donald Trump para proceder ao pagamento, como garantiu que Stormy Daniels não foi a única a ser paga de forma clandestina para que se mantivesse calada.
Além destes, a acusação acredita ainda que Trump realizou outros pagamentos ilícitos para tentar encobrir três casos que podiam manchar a sua reputação. Um dos beneficiários terá sido o porteiro da Trump Tower, que garantiu ter conhecimento de pelo menos um caso extraconjugal do empresário, com o valor de 30 mil dólares, cerca de 27 mil euros. Outros 150 mil dólares, cerca de 137 mil euros, terão sido pagos a uma mulher que afirmou ser ex-amante do multimilionário.
Assim que o acordo se tornou público, a atriz tentou invalidar o acordo de confidencialidade, escreveu um livro em que contou a sua versão da história e aceitou dar várias entrevistas. Entre elas ao programa "60 minutos", em que voltou a afirmar que não era uma vítima e que a relação foi consensual.
Stormy Daniels garantiu ainda que foi ameaçada em 2011, enquanto estava num parque de estacionamento com a filha, por um homem desconhecido para que se mantivesse em silêncio sobre os encontros amorosos com Donald Trump.
Processo histórico
Mais uma vez no centro da polémica, Donald Trump sempre negou ter-se envolvido e pago à atriz pornográfica. Na antiga rede social Twitter, o multimilionário acusou-a de mentir e de ser uma fraude, afirmação que lhe valeu um processo por difamação interposto pela própria.
Ainda em 2018, um juiz federal de Los Angeles decidiu que os comentários de Trump não eram difamatórios e que estavam dentro do que é garantido pelo direito à liberdade de expressão, previsto pela Primeira Emenda da Constituição norte-americana.
Livre deste processo, a candidatura de Trump à Casa Branca está novamente ameaçada. A 25 de março vai estar no banco dos réus, acusado num processo de suborno à atriz, tornando-se assim no primeiro ex-presidente da história dos Estados Unidos a enfrentar acusações criminais. O multimilionário garante que está a ser vítima de uma perseguição política e acusa a defesa de estar a tentar influenciar as eleições, críticas que se estendem ao adversário de campanha, Joe Biden.
Acusado de 34 crimes de falsificação de documentos, Donald Trump declarou-se inocente de todos em Tribunal. O julgamento, que deve durar cerca de seis semanas, começa depois do juiz ter rejeitado o pedido da defesa para retirar as acusações.
Em causa está o alegado encobrimento e falsificação das contas da empresa de Trump, ao registar o pagamento feito a Daniels como honorários devidos. A defesa sustenta que o empresário falsificou documentos com o objetivo de proceder à "fraude" ou à "prática de outro crime" e ainda explica que o magnata terá montado um "esquema" para "suprimir informações negativas" sobre o próprio, de forma a que a sua candidatura às presidenciais de 2016 não fosse prejudicada. O tribunal vai agora determinar se o empresário violou as leis estaduais de financiamento de campanha ou falsificou os registos comerciais.