Faltam menos de dois meses para as eleições europeias que abrem caminho às negociações dos cargos de topo da União. António Costa continua a ser falado para a presidência do Conselho Europeu, mas a investigação do Ministério Público é o grande obstáculo no caminho. No entanto, não é o único. Chegar à presidência de uma instituição europeia é um jogo que depende de muitas variáveis, como explica a correspondente da SIC em Bruxelas.
Há exatamente cinco anos, ninguém imaginava que Ursula von der Leyen desconhecida da esmagadora maioria dos europeus viria a ser presidente da Comissão Europeia A forma como acabou nomeada mostra a imprevisibilidade das negociações dos cargos de topo.
As projeções do Europe Elects mostram os socialistas, liberais e verdes a cair, enquanto a extrema-direita sobe. E é também por isso que, para Kanani, os 27 não se podem dar ao luxo de escolher um ex-primeiro-ministro sob suspeita.
Mas esta leitura não é a única. Fontes ouvidas pela SIC continuam a colocar António Costa entre os favoritos para a presidência do Conselho Europeu na condição de que até às negociações, que deverão decorrer em junho e julho, o socialista se veja livre das investigações. Visão partilhada por Johannes Greubel
António Costa sabe como as negociações são feitas. Até agora, sempre foi escolhido um dos primeiros-ministros à mesa. Ele já não está lá, mas esteve até há bem pouco tempo e durante 8 anos.
Soma experiência, boas relações com todos os colegas e na despedida o atual presidente Charles Michel deixou-lhe elogios à capacidade de resolver problemas.
Os socialistas europeus querem a cadeira e Costa preenche todos os critérios - menos um. Mas já mostrou que quer resolver a questão e ter caminho livre.
Só que a investigação desceu do Supremo Tribunal de Justiça para o DCIAP e o aviso é que o tempo da justiça não tem de ser o da corrida ao Conselho Europeu.
Entre os socialistas europeus, há outros possíveis candidatos, como o ex-primeiro ministro sueco ou a primeira-ministra da Dinamarca.
A primeira-ministra da Estónia é liberal e há outro lugar para o qual é falada: o de alto representante para a política externa.
É certo que os liberais arriscam perder peso no próximo Parlamento Europeu.
Mas a família do presidente francês Emmanuel Macron deverá continuar a ser necessária para formar maiorias com o partido popular europeu e os socialistas
São muitos os equilíbrios a gerir. Entre famílias políticas, de género, geográficos. O puzzle dos cargos de topo é complexo e a primeira peça a encaixar é a presidência da Comissão Europeia.
Ursula von der Leyen conta com o apoio do PPE que deverá voltar a ganhar as europeias, mas a alemã tem estado sob pressão. A procuradoria europeia está a investigar os contratos para a compra de vacinas da covid-19. E esta semana o Parlamento europeu acusou-a de falta de transparência. Em causa está a polémica nomeação de um colega de partido de von der Leyen para um posto europeu quando não foi o melhor no processo de seleção.
Luís Montenegro estará à mesa dos 27 para escolher quem fica nas cadeiras de topo e serão também eles a decidir se, com ou sem suspeitas, António Costa vai a jogo.