Na visita do conselheiro especial do Presidente do Brasil, Celso Amorim, a Pequim, a China e o Brasil fizeram uma declaração conjunta onde pediram uma solução política para a guerra na Ucrânia. O comentador da SIC, Germano Almeida, considera que esta declaração não "surpreende".
"É uma declaração que na minha perspetiva é errada e, permite-me a expressão, sonsa, na perspetiva em que tanto a China como o Brasil sabem que o caminho da paz não é uma solução que passe por uma negociação que leve a Ucrânia a abdicar do seu território."
O comentador da SIC explica que o objetivo desta declaração "é sabotar a Cimeira da Paz, promovida pelo Presidente Zelensky, na Suíça, no próximo mês de junho".
"O objetivo dos aliados da Rússia é mostrar que essa cimeira não vai ter sucesso. Ora nessa cimeira, o que vai estar em causa é falar-se dos pressupostos da fórmula de paz do Presidente Zelensky."
Germano Almeida acrescenta que esses pressupostos de paz são três: o "primeiro é exigir à Rússia que pare a agressão", o "segundo é retirar as tropas e o terceiro é encontrar uma arquitetura de segurança que impeça a Rússia de voltar a fazer a agressão".
No entender do comentador da SIC: "Isso sim, é um plano de paz".
A cimeira já tem cerca de 70 aceitações, mas o Presidente ucraniano quer pelo menos mais do dobro. Portugal também já confirmou o convite na sequência de um telefonema entre Montenegro e Zalensky.
"É um pouco preocupante" a divergência entre Londres e Washington
Germano Almeida fala na visita de Blinken à China, onde o secretário de estado dos EUA acusou Pequim de ser fundamental na agressão russa à Ucrânia por fornecer armas letais a Moscovo. No entanto, os americanos dizem que não há "dados objetivos (...) para afirmar isso".
"É um pouco preocupante ver essa divergência entre Londres e Washington nesta posição."
Outra questão, onde há divergência entre Londres e Washington, é o facto de Blinken ter dito que que a Ucrânia tem a legitimidade de usar armas que o Ocidente está a dar em território russo e dias depois foi corrigido" pelos Estados Unidos.
"São dois elementos em que me parece que há um pouco essa divergência e vamos ver se isso tem que se foi uma mera coincidência ou se tem um elemento no terreno."
Ainda acerca dos Estados Unidos, Germano Almeida explica o que é que o novo pacote de ajuda à Ucrânia, que o país acaba de promover, inclui.
"Rockets, sistemas de anti-aéreas, anti-tanques", enumera.
"Se tiver que se tivesse que rotular esse pacote, é o pacote anti-ofensivo russo em Kharkiv."
Explica também que este apoio de Washington vai "dar a ajuda" que Zelensky tem pedido.
Sobre o uso destas armas em território russo, o Presidente ucraniano já disse que só o faz com a "luz verde do Ocidente". O comentador da SIC refere que a Rússia já se manifestou e disse que "a Ucrânia não tem a legitimidade de usar armas que foram dadas pelo Ocidente para atacar em solo russo".
"O que me parece, a longo prazo, é que nestes dois anos e tal, por vezes o que temos visto é que de linha vermelha em linha vermelha, o que se tem perdido é mais tempo e tem-se dado a possibilidade à Rússia de ter essa capacidade" de atacar.
Existe uma progressiva "guerra híbrida russa sobre o leste da Europa"
Quase a terminar a análise, Germano Almeida chama a atenção para a progressiva "guerra híbrida russa sobre o leste da Europa".
"O primeiro-ministro polaco a acusar a Rússia de estar por trás do grande incêndio que houve no centro comercial de Varsóvia, no passado dia 12 de maio. A Polónia, República Checa e Alemanha, a apresentarem provas sobre a interferência russa nos seus próprios sistemas internos e espionagem, a interferência russa a nível político nas eleições europeias"
Para além disto, fala também da questão da fronteira da Rússia com a Estónia a nível marítimo, em que há um decreto a prever uma redefinição das fronteiras, mas a Rússia recuou e depois desse recuo, "na noite de anteontem para ontem, 50 boias luminosas no Rio Narva, que determinam essa delimitação, desapareceram".
"Isto é a típica ação russa de guerra híbrida", conclui.