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Análise

Cimeira da Paz promovida por Zelensky: existe "um elefante no meio da sala"

Rui Cardoso analisa a visita de Zelensky a Portugal e explica que "podemos ser úteis" em várias frentes. O jornalista aborda também a importância dos acordos de longo prazo que o Presidente ucraniano tem vindo a fazer com outros países e a Cimeira de Paz, onde considera que existe "um elefante no meio da sala".

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A visita de Volodymyr Zelensky a Portugal tem um envolvimento de várias frentes, uma frente diplomática, uma frente militar e uma frente humanitária. Rui Cardoso, comentador da SIC, diz que Portugal pode ser útil “em todas elas”.

“Eu penso que podemos ser úteis em todas elas de acordo com aquilo que são as condições e a dimensão económica, militar e mesmo geoestratégica de Portugal”.

O jornalista explica que no lado diplomático “é importantíssimo que haja uma posição conjunta da União Europeia” em relação ao apoio à Ucrânia, no entanto, neste momento, não é isso que está a acontecer.

“Sabemos que neste momento, o ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro tem tentado bloquear tudo o que são verbas de apoio à Ucrânia. Não são tanto verbas diretas, são verbas de compensação para dar aos países europeus que enviam material e enviam apoio para a Ucrânia.”

Sobre o lado militar, refere que o objetivo não é ensinar os ucranianos “aquilo que eles sabem fazer melhor do que ninguém que é combater em situações particularmente difíceis”, mas sim ajudá-los com "a manutenção e reparação de equipamentos" enviados para o país. Rui Cardoso dá exemplos da ajuda que os países devem fornecer para a “desminagem do território” ucraniano.

Há também a questão dos “F-16. É preciso perceber que um F-16 para funcionar precisa de ter um piloto, obviamente, mas por cada aeronave é preciso ter 15 ou 16 técnicos de terra, pelo menos operadores de eletrónica, de radares, municiadores, mecânicos, eletricistas. Portugal tem-nos em qualidade e tem doutrina e (…) pode dar algum contributo, não para oferecer F-16, mas para os ajudar a manter, a voar nas devidas condições e dar formação ao pessoal”, acrescenta.

Recorda ainda que, no que se refere ao espaço aéreo ucraniano, Portugal tem ajudado o país “a localizar alvos e a garantir alguma proteção do espaço aéreo ucraniano, nomeadamente naquilo que é crítico, que são as linhas da frente”.

O jornalista afirma também que o momento em que Zelensky está a fazer esta viagem por vários países “é uma altura em que a situação já não é tão má como durante a visita prevista” anteriormente, que acabou por ser adiada.

Acordos com os países são de longo prazo porque “quem quer a paz” tem que se preparar “para a guerra”

Rui Cardoso sublinha que desta deslocação de Zelensky há a destacar a cooperação militar com a vizinha Espanha, nomeadamente no que respeita ao fornecimento de equipamentos antiaéreos, e o acordo de defesa com a Bélgica. Para além disto, pode ler-se, esta terça-feira, na imprensa europeia, que há “uma iniciativa holandesa para, a curtíssimo prazo, fornecer à Ucrânia mais um sistema antimíssil”.

“Há aqui toda uma série de domínios de coisas em que a Europa pode fazer algo com Ucrânia e é essa a razão de ser desta visita a Portugal”, sustenta.

Ainda sobre os acordos de longo prazo que estão a ser feitos, durante as visitas do Presidente ucraniano aos países, o jornalista explica que são importantes porque “mesmo que houvesse um milagre diplomático neste momento e houvesse um armistício, um cessar-fogo, a situação de guerra congelada permaneceria”.

"São coisas de longo prazo porque, dentro daquela ideia dos romanos, da República Romana, quem quer a paz" tem que se preparar “para a guerra”.

“Há um elefante no meio da sala que é se convida os russos ou não”

Rui Cardoso termina a análise da atualidade internacional com a Cimeira de Paz promovida por Zelensky e diz que convidar os russos ou não é um “elefante no meio da sala”.

Acrescenta também que “estar lá a China é importante” porque esta tem “uma posição de equilíbrio importante”.

"Por um lado a China quer manter alguma aproximação geoestratégica com Moscovo para seu benefício" mas, por outro lado, também não quer perder os mercados ocidentais. Portanto, é um jogo complexo e faz todo o sentido a presença chinesa nessa conferência", conclui.