Mundo

CORRESPONDENTE SIC

Quando os drones são soldados no campo de batalha ucraniano

No campo de batalha, as regras do jogo estão sempre a mudar, a evolução da tecnologia é constante. A correspondente da SIC na Ucrânia visitou uma oficina improvisada na região de Donetsk onde soldados ucranianos recorrem à imaginação para adaptarem drones e tentarem estar sempre um passo à frente das forças russas.

Loading...

Protegido do sol e da chuva, está o mais recente projeto de Langust. É comandante de um batalhão de pilotos de drones da brigada 59 do exército ucraniano.

A novo drone que está a ser testado ainda não tem nome, mas consegue carregar até 24 quilos de carga explosiva.

"Construí-lo sozinho. Comprei o quadro e o resto fiz sozinho”, conta Langust. "Ainda tenho que colocar aqui umas antenas e assim."

É uma adaptação de um drone agrícola. É semelhante ao drone “Vampiro”. Leva menos explosivos, mas foi feito para ser usado contra carros de combate e outros veículos blindados. Trabalha, sobretudo de noite. Os soldados russos chamam-no “Baba Yaga” - "bruxa”, em português. Os ucranianos dizem que é um dos drones dos quais os russos têm mais medo.

A rápida evolução das tecnologias obriga Langust a estar sempre atento, a partir da oficina improvisada que montou na região de Donetsk.

"Isto é uma versão de reconhecimento. Existe um com uma outra câmara, para largar explosivos”, diz sobre outro equipamento, que está a aperfeiçoar. “Estou agora a acabá-lo, no outro coloquei uma câmara noturna, trabalhamos com ele de noite."

"Como ele tem uns motores diferentes, faz um barulho diferente. Durante muito tempo, os russos não conseguiam perceber do que é que se tratava”, continua.

Outra das vantagens deste drone, chamado “Ukropter”, é trabalhar sem satélite. Tem um sistema de navegação próprio e consegue escapar aos bloqueios radioeletrónicos.

Há por aqui muitos outros veículos aéreos não tripulados. Há até drones das forças russas, que foram apanhados pelos soldados ucranianos. Aqueles que estão em bom estado acabam por ser usados contra o outro lado da linha da frente. Os que não estão em tão boas condições são usados para peças.

Do lado dos russos, o investimento no desenvolvimento dos drones é feito sobretudo pelo Estado. Do lado dos ucranianos, a maior parte do financiamento vem de voluntários. Mas Langust garante que, mesmo assim, os ucranianos têm melhores resultados.

Desde projéteis cumulativos, de fragmentação e até minas podem ser transportadas pelos drones. No improviso, tubos de PVC e impressoras 3D são essenciais.

“Nós fazemos tudo a partir de qualquer coisa”, admite Langust. “Os estragos que isto causa... às vezes as pessoas ficam em choque. Mas nós não temos outra solução.”

Em dois anos e meio de guerra em larga escala, as regras do jogo mudaram. Os drones são hoje autênticos soldados no campo de batalha.