Quis o destino que o atual secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) fosse, há 25 anos, o primeiro-ministro da potência administrante de Timor-Leste, pelo menos no papel, tal como era reconhecida.
O português António Guterres foi recebido como um herói durante o início das comemorações do referendo à independência de Timor-Leste.
"Quando falei com Bill Clinton em Oakland, no seu hotel, ele disse: 'A pessoa que mais me sensibilizou, que mais me comoveu para a questão de Timor-Leste foi António Guterres".
"Com sua compaixão, liderança com compaixão, convenceu Bill Clinton de que era a oportunidade para os Estados Unidos apoiar. Duas noites depois, o presidente habibi foi à televisão e disse que a Indonésia aceitava uma força da ONU em Timor-Leste".
O resumo é feito por José Ramos Horta, atual presidente de Timor-Leste e durante décadas a voz da resistência em Nova Iorque nas Nações Unidas.
Uma resistência que começou ainda durante o regime colonial português e que continuou com a ocupação da Indonésia, poucos dias após a proclamação da independência em 1975.
Estima-se que ao longo dos 24 anos em que o território foi considerado por Jacarta a 27ª província da indonésia terão morrido cerca de 180 mil opositores, alguns no massacre de Santa Cruz.
As atenções mundiais viraram-se então para o drama de Timor e o líder da resistência, Xanana Gusmão, refugiado nas montanhas, até ser capturado pelo exercito indonésio.
O início da causa de Timor-Leste
Mas este não foi o fim da pressão internacional, mas antes o início da causa de Timor-Leste em que a diplomacia portuguesa se empenhou interna e externamente e ganhou o apoio das potencias mundiais.
Sob os auspícios da Organização das Nações Unidas (ONU), Portugal e a Indonésia chegaram a acordo quanto a um referendo em agosto de 1999.
Nos dias que antecederam a primeira votação democrática no território, a festa foi ensombrada pela violência das milícias pró-integração que causaram o caos e disseminaram a morte. Quase uma semana após a votação, os resultados foram Inequívocos.
A alegria tomou conta das ruas de Díli e os três anos de preparação para a independência contaram com a presença dos capacetes azuis e a administração das Nações Unidas.
A independência viria a ocorrer a 20 de maio de 2002, mas no primeiro aniversário desencadeou-se um nova explosão de violência a cargo das milícias onde morreram mais de mil pessoas. Tropas portuguesas, da Malásia e da Nova Zelândia tentaram manter a ordem num território em que perpétua a instabilidade.
Os últimos 20 anos viram os velhos lideres em alternados cargos políticos, demissões, substituições e sempre com o risco da quebra da ordem, agora também pela via dos militares.