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Médicos do Mundo acusa Israel de usar fome como arma de guerra em Gaza

A organização Médicos do Mundo (MDM) criticou Israel pelo bloqueio imposto à Faixa de Gaza, alertando que a desnutrição aguda está a ser usada como arma de guerra. Após 18 meses de conflito, os níveis de desnutrição em Gaza são comparáveis aos de crises humanitárias prolongadas.

Médicos do Mundo acusa Israel de usar fome como arma de guerra em Gaza
Abdel Kareem Hana

A organização não-governamental Médicos do Mundo (MDM) criticou, esta terça-feira, Israel pelo bloqueio imposto ao território palestiniano, apontando que a desnutrição aguda na Faixa de Gaza está a ser usada como "arma de guerra".

Após 18 meses de guerra, a Faixa de Gaza atingiu níveis de desnutrição "comparáveis aos observados em países que enfrentam crises humanitárias prolongadas que duram décadas, como Iémen ou Nigéria", disse a organização.

Num relatório baseado em dados de seis centros de saúde de Gaza, a MDM aponta uma ligação entre o aumento das taxas de desnutrição e a diminuição dos volumes de ajuda que entram no território palestiniano.

Em novembro, por exemplo, foi observado um pico de desnutrição infantil de 17%, período que coincide com uma redução significativa no fluxo de ajuda humanitária.

Israel estima que há "atualmente comida suficiente"

A ajuda entra principalmente por corredores humanitários entre a Faixa de Gaza e Israel.

O de Rafah, na fronteira com o Egito, está inoperante desde que a cidade foi capturada pelo exército israelita na primavera de 2024.

Os volumes de ajuda têm flutuado desde o início da guerra, desencadeada pelo ataque sem precedentes do Hamas em 07 de outubro de 2023, mas as autoridades israelitas fecharam as travessias desde 2 de março para forçar o Hamas a libertar os reféns.

O gabinete de segurança israelita estima que há "atualmente comida suficiente" em Gaza.

Mas, no terreno, as organizações de ajuda denunciam uma situação dramática.

PAM anuncia que tinha "esgotado o stock"

O Programa Alimentar Mundial (PAM), por exemplo, anunciou, a 25 de abril, que tinha "esgotado o stock".

"Não estamos a testemunhar uma crise humanitária, mas uma crise de humanidade e falência moral com o uso da fome como arma de guerra", disse Jean-François Corty, presidente do MDM.

Segundo a MDM, em abril de 2025, quase uma em cada quatro crianças e uma em cada cinco mulheres grávidas ou a amamentar estavam no limite ou haviam excedido o limite para desnutrição aguda.

Na segunda-feira, um relatório doIPC (Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar) - resultado do trabalho de organizações não governamentais, instituições e agências especializadas da ONU- concluiu que a Faixa de Gaza enfrenta "um risco crítico de fome", com 22% da população prestes a entrar numa situação "catastrófica".

Entre 01 de abril e 10 de maio, o consórcio, que classifica o nível de insegurança alimentar em cinco níveis, classificou 1,95 milhões de pessoas (93% do total) em situação de "crise" (nível 3) "ou pior", incluindo 925 mil no nível 4 (emergência) e 244 mil pessoas em situação de desastre (nível 5).