Uma delegação do Parlamento Europeu (PE) concluiu esta terça-feira uma “missão exploratória” de três dias à Ucrânia com a constatação de que este país conta com o apoio de “muito amigos” face à intimidação da Rússia, que “escolheu ficar isolada”.
Numa conferência de imprensa em Kiev, transmitida em Bruxelas, os dois copresidentes da delegação, o eurodeputado alemão David McAllister (Partido Popular Europeu), presidente da comissão de Negócios Estrangeiros do PE, e a francesa Nathalie Loiseau (Renovar Europa), presidente da subcomissão parlamentar de Segurança e Defesa, realçaram por diversas vezes a “unidade” da UE na sua solidariedade com a Ucrânia e reiteraram que uma eventual nova agressão militar russa terá como resposta “sanções sem precedentes”.
Apontando que a delegação parlamentar era composta por nove eurodeputados “dos mais diversos quadrantes políticos e nacionalidades”, McAllister sublinhou a “mensagem clara e unida” do bloco europeu face à ameaça de uma agressão russa, admitindo que o propósito da missão foi recolher informação no terreno, mas também deixar um inequívoco sinal de apoio dos parlamentares europeus à soberania e integridade territorial da Ucrânia.
“Nesta hora de incerteza, também visitámos Mariupol, porque estamos preocupados com as atividades da marinha russa no mar de Azov”, disse, lamentando que nas zonas de conflito, no Leste da Ucrânia, o cessar-fogo seja “violado todas as semanas”.
“A Ucrânia tem muitos amigos, enquanto a Rússia escolheu ficar isolada”
Já a deputada Nathalie Loiseau comentou que é hoje evidente que “a Ucrânia tem muitos amigos, enquanto a Rússia escolheu ficar isolada”.
A presidente da subcomissão de Segurança e Defesa disse que a delegação do PE ficou “impressionada com a resiliência e a calma da população ucraniana”, comentando que “essa é a forma certa de lidar com a intimidação” de que está a ser alvo por parte da Rússia, e que ganhou a forma de “pressão militar, económica e psicológica”, incluindo através de campanhas de desinformação em grande escala.
“A Ucrânia não quer a guerra, e a União Europeia está a tentar ajudar a procurar um caminho diplomático” para pôr fim a esta crise, declarou.
Este último dia da missão do Parlamento Europeu coincide com visitas dos primeiros-ministros do Reino Unido, Boris Johnson, e da Polónia, Mateusz Morawiecki, a Kiev, que reforçam a mensagem de solidariedade dos parceiros ocidentais da Ucrânia, algo que foi hoje mesmo saudado pelo Presidente ucraniano.
Volodymyr Zelensky congratulou-se com o apoio diplomático e militar ao país, que disse ser o mais significativo desde a anterior ofensiva da Rússia contra a Ucrânia, em 2014.
“O apoio diplomático à Ucrânia é o mais importante e incondicional desde 2014, e continua. A assistência militar e técnica à Ucrânia é a mais importante, a mais valiosa e continua a chegar”, disse Zelensky, na abertura da sétima sessão do Parlamento, em Kiev.
Conflito começou em 2014
A Rússia anexou a península ucraniana da Crimeia em 2014, após uma revolução em Kiev a favor da integração europeia, que resultou no afastamento do então Presidente pró-russo, Viktor Yanukovych.
Desde então, a Ucrânia também está em guerra com separatistas apoiados pela Rússia no Leste do país, num conflito que já provocou cerca de 14.000 mortos e 1,5 milhões de deslocados, segundo a ONU.
Apesar da assinatura de acordos de paz, o acordo político estagnou e a violência nunca parou completamente.
A Rússia é acusada pelo Ocidente de ter reunido várias dezenas de milhares de soldados na fronteira do seu vizinho nos últimos meses, em antecipação de uma possível invasão.
Moscovo nega qualquer intenção bélica, mas condiciona o desanuviamento da crise a exigências que diz serem necessárias para garantir a sua segurança.
Essas exigências incluem uma garantia de que a Ucrânia nunca será membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e que a Aliança retirará as suas tropas na Europa de Leste para posições anteriores a 1997.
Os Estados Unidos rejeitaram as exigências russas, mas deixaram a porta aberta para conversações sobre outras questões de segurança, tais como destacamentos de mísseis ou limites recíprocos de exercícios militares.