“Literalmente, em três dias ocorreu uma revolução. É uma verdadeira revolução”, salienta Moukhtar Abliazov, em entrevista à agência AFP.
Para o ex-banqueiro e ex-ministro, de 58 anos, a “mudança de regime ainda não aconteceu, mas a revolução já passou pela cabeça das pessoas”.
“Penso que será o fim do regime, a questão é quanto tempo será preciso para isso acontecer. Pode durar um ano, mas também tudo pode mudar em duas semanas”, analisa numa entrevista, em Paris, onde vive.
O Cazaquistão, o maior país da Ásia central, regista há vários dias massivos protestos que se iniciaram com manifestações após o anúncio do aumento dos preços do gás, e degeneraram em tumultos incontroláveis.
De acordo com diversas agências noticiosas russas, que citam o Ministério do Interior cazaque, pelo menos 18 membros das forças de segurança foram mortos e 748 feridos nos tumultos que decorrem desde domingo.
A Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), uma aliança militar que agrupa seis ex-repúblicas soviéticas, respondeu ao apelo do Presidente do Cazaquistão e destacou para o país um “contingente de paz”, controlado pela Rússia.
A situação no Cazaquistão
Com cerca de 18 milhões de habitantes, o Cazaquistão está a viver os protestos de rua mais graves desde que conquistou a independência, há três décadas.
Perante os protestos massivos, o Presidente cazaque Kassym-Jomart Tokayev demitiu o Governo e impôs limites máximos nos preços dos combustíveis durante seis meses.
O opositor cazaque frisou que, após três décadas de regime autoritário, as pessoas “entenderam que não são fracas e podem forçar o regime a ouvir o povo”.
“[Os cidadãos] começaram a derrubar as estátuas de Nursultan Nazarbayev”, salienta Moukhtar Abliazov.
Segundo Abliazov, o ex-presidente, considerado o mentor do atual chefe de Estado, está refugiado em Abu Dhabi desde o início dos distúrbios, embora esta informação ainda não tenha sido confirmada.
Já sobre o pedido de ajuda à OTSC, o opositor refere que este deve-se ao medo por parte do Governo e acrescentou que Putin “quer reconstruir a ex-União Soviética” e que “aproveitou a situação” para intervir militarmente.
Moukhtar Abliazov pretende continuar a sua luta desde Paris, onde criou um partido de oposição – Escolha Democrática do Cazaquistão – enquanto espera regressar ao país cazaque, e vai pedir um encontro com o Presidente francês Emmanuel Macron.
O opositor ao regime garante estar pronto para ser primeiro-ministro de um Governo provisório e promete estabelecer um regime parlamentar, sem presidente, no Cazaquistão.
Quem é Moukhtar Abliazov
Ex-ministro do Presidente Nazarbayev, Moukhtar Abliazov passou 14 meses em prisões do Cazaquistão após cair em desgraça e exilou-se no Reino Unido e depois em França.
É acusado de desviar milhares de milhões de dólares na altura em que dirigia o banco BTA, acusações que sempre negou.
Em 2017, Abliazov foi condenado no Cazaquistão a 20 anos de prisão por peculato e no ano seguinte a prisão perpétua, por ter ordenado o assassinato de um sócio em 2004, depois da investigação inicial ter revelado tratar-se de um acidente de caça.
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