Edna dos Anjos Nascimento Siqueira, conhecida como Bezinha, é a líder do grupo de empreendedoras. Em 2015, reuniu uma dezena de mulheres para reorganizar a produção de açaí e procurar financiamento de bancos e instituições públicas. Dez anos depois, a liderança feminina é inquestionável e está a dar frutos, a produção cresceu entre 50% a 60%.
"No início os maridos cuidavam do produto, da produção. Aí nós, as mulheres, começámos a se movimentar. Vamos lá ver se a gente se consegue organizar?", recorda Bezinha, enquanto retira rapidamente os pequenos frutos escuros dos galhos e os coloca numa cesta.
O açaí é um superalimento e é também usado na indústria farmacêutica, na elaboração de cosméticos.
A autoridade rural local estima que quatro hectares na região da Ilha da Jussara sejam dedicados à produção de açaí orgânico.
Bezinha está consciente do valor do produto que aprendeu a trabalhar em criança com o pai. Agora, com 60 anos, continua a trepar às palmeiras como quando era miúda. A agilidade que mantém está ao mesmo nível da energia que assegura na gestão da produção do "ouro negro", como lhe chama.
"Aqui tem muito valor, mas ainda não conseguimos organizar tudo para ganhar mais. Este é o nosso ouro negro", diz Bezinha, em entrevista à agência Reuters.
As vendas totalizam mais de 100 mil euros por ano, o que representa mais de 85% da renda da comunidade, segundo a Emater - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural, instituição pública que gere o setor agrícola no Brasil.
Desde que Edna dos Anjos Nascimento Siqueira assumiu a liderança da gestão, a produção cresceu entre 50% a 60%, segundo Lucival Solim Chavez, engenheiro agrónomo da Emater.
"Conseguimos muito", conta Bezinha. "Os meus amigos que fazem parte... têm casinha própria, fogãozinho próprio, banheiro próprio. E para nós mudou muito, graças a Deus", acrescenta.
A comunidade tem enfrentado novos desafios de financiamento desde a pandemia de covid-19 e procura frequentemente apoio governamental.
O açaí é um fruto extremamente popular no Brasil e está a conquistar o mundo, Portugal não é exceção. Idêntico ao mirtilo na cor e formato, é também considerado um superalimento, muito rico em vários nutrientes, como vitaminas, minerais e fibras.
Fruto cada vez mais apreciado em Portugal
Este fruto fruto brasileiro cultivado predominantemente na região amazónica, começou a ser vendido e consumido há poucos anos em Portugal e noutros países da Europa, onde está a ganhar popularidade.
O açaí chegou aos supermercados e às lojas portuguesas principalmente na forma de gelado, muito apreciado especialmente pelos mais jovens. Carlos Bolzan é um dos responsáveis pela introdução e expansão do fruto em Portugal.
Ex-sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro foi atingido com dois tiros em 2011, o incidente ditou o fim da carreira policial. O brasileiro casado com uma descendente de portugueses fez uma viagem a Portugal e a outros países da Europa, na companhia da mulher.
As raízes portuguesas e a tranquilidade que experimentaram levou-os a atravessar o Atlântico definitivamente e, em 2019, deram início ao negócio de açaí. A venda começou nas redes sociais e, atualmente, o “Rei do Açaí”, como é conhecido, e a mulher têm 11 lojas de "O Açaí da Tia Lu" em Portugal e ainda uma em Espanha.