Opinião

As frases vazias que não ganham eleições

Opinião de Pedro Cruz, SIC.

As frases vazias que não ganham eleições
ANTONIO COTRIM

Em 1999, António Vitorino pediu para Guterres uma “maioria absolutamente inequívoca”.
Nessa altura, o chefe do aparelho, Jorge Coelho, não queria cá pedidos de maioria absoluta.
A frase acabou por marcar o congresso, Coelho não gostou, Guterres foi obrigado a anunciar a maioria absoluta como objetivo e... já sabemos o que se seguiu.
O pântano, entre os rios e as autárquicas seguintes levaram Guterres para longe.

Década e meia antes, Almeida Santos mandou escrever num cartaz de campanha: “43 por cento para governar Portugal”.
Nada mais desastrado. Não só o PS não ganhou essas eleições em 1985, como havia de permitir a chegada e consolidação do poder do “gajo” que conseguia irritar Mário Soares apenas com a sua presença.
Cavaco limpou essa eleição por maioria, e seguiram se mais duas maiorias absolutas.
Mas a frase era clara, sem medos e sem dúvidas.

Ana Catarina Mendes, na Comissão Nacional de ontem, pediu para o PS uma “maioria absolutamente inequívoca”.
Vitorino há de estar a sorrir da “coincidência” da escolha de palavras da atual secretária-geral adjunta.

Se o PS quer, e é legítimo, ter maioria absoluta, então que a peça, sem truques, sem subtileza nas palavras, sem tibiezas.
Aspirar a ter maioria absoluta é legítimo. É decente. É um objetivo.

Disfarçar essa vontade num jogo de palavras é atirar a pedra e esconder a mão.

Claro que a frase dita claramente vai ser cobrada na noite eleitoral.
Mas para que serve a política sem coragem, frontalidade e desafio?