Cavaco nunca engoliu a geringonça e queria um papel.
Marcelo não quer papel. (mas devia?)
O PCP não quer "repetir a cena" do papel.
O Bloco prefere papel, daqueles assinados com tudo escrito.
O Livre não assina nada.
E o PAN também não quer papel.
(Prefere um mail para não abater mais árvores, a menos que sejam eucaliptos. Se for papel de eucalipto pode ser papel mas, na verdade, o PAN não quer papel).
Costa anda em périplo.
Vai ele mesmo, primeiro-ministro indigitado, falar com todos, à esquerda – a máxima de Costa de que todos devem ser ouvidos acaba ali na fronteira da bancada "da direita" - e vai a casa de cada um, como o frade que inventou a sopa da pedra e foi de porta em porta recolher um ingrediente de cada vez para conseguir o "milagre" de fazer a sopa apenas com uma pedra.
Mas há papel ou não há papel?
Bastam conversas "entre parceiros" e a tal "palavra dada" ou é mesmo preciso que alguns princípios de acordo fiquem escritos e outros só apalavrados?
E Costa quer governar os quatro anos, ou aponta para um governo "a dois anos", como sugeriu na campanha?
E as eventuais futuras crises de Governo?
Aprovar orçamentos não parece ser a tarefa mais difícil de Costa. Com um ajuste ali, outro acolá, a coisa acaba por se fazer, se não for por ação, há de ser por omissão.
O PS contará decerto com a abstenção da esquerda para ver passar o programa de Governo e um ou outro orçamento menos amigo dos trabalhadores, dos reformados ou do ambiente.
Mas se houver de novo um caso Tancos, umas golas antifumo ou um family gate, quem vai segurar Costa? A esquerda do PS, sem papel assinado, manterá o Governo minoritário como fez nos últimos quatro anos? Ou não?
Por essa altura, já se terá percebido que a sopa não é um milagre e no fundo da panela só resta mesmo a pedra.
Sozinha.