Opinião

Antes a mais do que a menos (mas a mais é mau e a menos também)

Concordo com Rui Rio (apenas) num ponto: os debates quinzenais são excessivos.

Antes a mais do que a menos (mas a mais é mau e a menos também)
MIGUEL A. LOPES/ LUSA

Mas as razões agora dadas por Rio são deploráveis: que um «primeiro-ministro tem mais que fazer, que tem de trabalhar, que não pode estar a ir de 15 em 15 dias ao Parlamento porque tem é de governar» é uma formulação absurda e, essa sim, sujeita a censura.

Porque desvaloriza o Parlamento, o escrutínio, os representantes dos eleitores e a função da Assembleia.

Mas, na essência, e já o disse muitas vezes na SIC Notícias, um debate quinzenal é manifestamente exagerado.

Porque banaliza o debate, vulgariza as sessões, torna-se um simples ato formal e não um verdadeiro confronto de ideias, porque o Governo (seja qual for) raramente responde diretamente aos deputados da oposição, porque a gestão dos tempos favorece sempre o Governo e nunca a oposição e, finalmente, porque muitas vezes acabam os debates e, bem espremido, não há nada que valha a pena em termos políticos.

Não ficamos mais ricos, mais esclarecidos e melhor informados.

Foi «só» mais uma tarde «sem história» no Parlamento.

Tudo o que se banaliza, vulgariza e se faz apenas para cumprir calendário acaba por desvalorizar a essência, tornar numa cerimónia o que devia ser um ponto alto do trabalho parlamentar.

Rio fez a proposta certa, pelas razões erradas.

Porque está já a pensar que, se for primeiro-ministro, não quer ter de «andar a ir ao Parlamento de 15 em 15 dias».

Essa é a pior das razões, um primeiro-ministro dizer que não «está para» ir ao Parlamento.

Para ser equilibrado, ter valor e fazer sentido, o debate devia ser mensal (e não à razão de oito por ano) e, além deste, ainda haveria os do Estado da Nação, do Orçamento e outros, sempre que se justificasse.

Aproveitar uma proposta para diminuir para os mínimos os debates é (ainda) pior do que ter vulgarização, por excesso, de debate.

O acordo entre o Bloco Central claro que ajuda a calar os partidos mais pequenos.

Mas chama-se democracia a funcionar.

E não se pode gostar da democracia só quando ganha quem nós queremos.