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Sessão de Cinema: “Ema”

Pablo Larraín possui uma notável filmografia, recheada de contrastes, da evocação histórica à análise psicológica. No caso de ”Ema”, o seu trabalho aventura-se pelos caminhos do drama familiar.

Mariana Di Girólamo e Gael García Bernal: no labirinto de uma crise conjugal
Mariana Di Girólamo e Gael García Bernal: no labirinto de uma crise conjugal

Convenhamos que, em cinema, a versatilidade não é obrigatoriamente interessante. Um criador que se exprime em registos muito diversos não faz, só por isso, filmes que valha a pena seguir. As excepções confirmam a regra. Exemplo? O chileno Pablo Larraín, em cuja filmografia encontramos alguns admiráveis testemunhos sobre o tempo da ditadura de Augusto Pinochet, incluindo “Post Mortem” (2010) e “Não” (2012), a par dessa verdadeira pérola cinematográfica que é “Jackie” (2016), um retrato de Jacqueline Kennedy protagonizado por Natalie Portman.

“Ema” (2019), realizado logo após “Jackie”, é a sua mais recente longa-metragem, agora disponível numa plataforma de streaming. Nela se encenam as convulsões de um casal — interpretado pelos magníficos Mariana Di Girólamo (Ema) e Gael García Bernal (Gastón) — unidos pela actividade artística no campo da dança, mas em processo de divórcio. O seu filho adoptivo, Polo (Cristian Felipe Suarez), personagem de muitos conflitos e resistências, vai ser um teste à sua sobrevivência emocional…

Uma vez mais, Larraín distingue-se como meticuloso analista das mais secretas nuances das relações humanas, tarefa como sempre ligada a uma cuidada direcção de actores. Especialmente importante em “Ema” é a presença dos quadros de dança, não como simples performance, antes como elementos dramáticos em que, por assim dizer, se projectam as vibrações de tudo o que está a ser vivido pelas personagens centrais. Sem esquecer que a música de Nicolas Jarr se revela essencial na definição de tais ambientes.

Entretanto, vale a pena referir que Larraín continua a acumular contrastes na sua obra, agora abordando uma personagem feminina cujas memórias, tal como Jacqueline Kennedy, cruzam história e mitologia, conto de fadas e tragédia. Assim, ele está a rodar “Spencer”, sobre a Princesa Diana, com o papel central entregue a Kristen Stewart.

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