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Ferrostaal pondera projeto para Estaleiros de Viana do Castelo

Responsáveis da empresa alemã Ferrostaal admitiram  hoje cancelar o Hotel Alfamar, no Algarve, de substituição das contrapartidas  pela venda de dois submarinos a Portugal, por um outro projeto que favoreça  os Estaleiros de Viana do Castelo. 

Lusa
ARMÉNIO BELO

No final da sessão de hoje, de inquirição do antigo vice-presidente  da Ferrostaal Horst Weretecki, no julgamento do caso "Submarinos/contrapartidas",  um dirigente da Ferrostaal, através da advogada da empresa, Sofia Martins,  reconheceu que surgiram dificuldades na concretização do projeto Alfamar,  estando a empresa alemã a estudar outras alternativas, designadamente ligadas  aos Estaleiros de Viana do Castelo. 

A Ferrostaal, empresa ligada ao German Submarine Consortium (GSC),  que vendeu dois submarinos a Portugal num negócio de mil milhões de euros,  inicialmente devia ter cumprido as contrapartidas através do Agrupamento  Complementar de Empresas de Componentes Integrados para a Indústria Automóvel  (ACECIA), mas o processo-crime instaurado contra Weretecki, dois outros  alemães e sete arguidos portugueses daquele agrupamento empresarial, levaram  os responsáveis germânicos a assinar, com o ex-ministro da Economia Álvaro  Santos Pereira, um acordo de substituição das contrapartidas que previa  a reconstrução do hotel Alfamar. 

Com base neste acordo, Nuno Godinho de Matos, advogado de defesa  de Weretecki e dos restantes dois arguidos alemães, solicitou aos juízes  da 6. Vara Criminal a extinção do procedimento criminal, e o cancelamento  do julgamento, alegando que o Estado português já não podia alegar ter sido  lesado. Após oposição do Ministério Público, o pedido foi recusado pelo  tribunal. 

Hoje, Godinho de Matos revelou aos jornalistas que não recorreu  desta decisão porque, "neste momento, o projeto  1/8Alfamar 3/8 não está eficaz".

"Não está em vigor. O que parecia definitivo há quatro ou cinco  meses, de facto, não é", disse Godinho de Matos, sem adiantar mais pormenores  sobre um novo projeto de contrapartidas, a negociar com o atual ministro  da Economia, Pires de Lima. 

Instada a comentar o assunto, Sofia Martins, advogada da Ferrostaal  que tem acompanhado este julgamento sentada na zona do público, confirmou,  na presença de outro responsável da empresa alemã, a existência de problemas  ligados ao hotel Alfamar, admitindo que a Ferrostaal, que no passado já  teve ligações à Lisnave, pondera apresentar um novo projeto de substituição  de contrapartidas, que passe pelos Estaleiros de Viana do Castelo. 

Ouvido hoje em julgamento, o arguido Horst Weretecki alegou que,  até 01 de outubro de 2004, altura em que assumiu as funções plenas de vice-presidência  da Ferrostaal, tinha um conhecimento muito limitado do negócio dos "submarinos/contrapartidas"  com Portugal. 

Weretecki justificou o fraco conhecimento do negócio dos submarinos  com Portugal com o facto de, na altura, se tratar de uma "encomenda recente",  sustentando que "só em finais de 2005 soube alguma coisa" sobre a ACECIA,  na altura presidida por Palma Féria. 

Inquirido à tarde pelo procurador, Weretecki admitiu que assinou  alguns formulários de contrapartidas sem os ler "na íntegra", mas desvalorizou  o facto, dizendo que não tinha razões para duvidar dos documentos que lhe  eram apresentados por outros colaboradores da Ferrostaal. A inquirição prossegue  na próxima terça-feira. 

Segundo Godinho de Matos, entre 1999 e 2004, Weretecki "não teve  qualquer intervenção" no negócio das contrapartidas, não podendo ser responsável  por atos praticados em data anterior, pelo que deve ser absolvido dos crimes  de burla e falsificação.  

Segundo a acusação, o processo das contrapartidas lesou o Estado  português em mais de 30 milhões de euros.  

Portugal contratualizou com o consórcio GSC a compra de dois submarinos  em 2004, por mil milhões de euros, quando Durão Barroso era primeiro-ministro  e Paulo Portas, ministro da Defesa Nacional.  

Lusa