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Aparecimento de crack e recaídas de heroína preocupam autoridades de saúde 

O número de pessoas em unidades de tratamento  de dependentes está a aumentar, com o recrudescimento do consumo de heroína,  o aparecimento de novas drogas altamente aditivas, como o "crack", e o aumento  do consumo de álcool, como anti-depressivo. 

© Handout . / Reuters

A revelação foi feita hoje pelo presidente do Serviço de Intervenção  nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), João Goulão, durante  a apresentação do relatório do "Movimento Clínico IDT 2001 -- 2012", em  Lisboa. 

"Temos um aumento da população em acompanhamento nas unidades dedicadas  ao tratamento de dependentes. É uma população constituída por três componentes:  pessoas com problemas ligados ao álcool, ao uso de substâncias ilícitas  e outro tipo de população que recorre aos nossos serviços - sejam pais que  procuram orientação para lidar com problemas em casa, sejam jovens referenciados  pelas comissões de proteção de crianças e jovens em risco", afirmou. 

Segundo o responsável, estas componentes têm pesos equivalentes no total  - um terço, cada uma delas. Em 2012, entraram no serviço 1872 novos utentes com problemas relacionados  com o álcool, 1979, com problemas ligados a drogas, e 1817, com outros problemas,  valores que têm vindo a crescer desde 2002. 

Os dados mais recentes, relativos a setembro de 2013, indicam que entraram,  neste ano, 1367 por causa do álcool, 1503 devido a drogas e 1511, por outros  motivos. 

O aumento do número de pessoas que recorre aos serviços indicia, por  um lado, uma maior acessibilidade e disponibilidade dos serviços e, por  outro, um eventual aumento da prevalência desses problemas na sociedade  portuguesa, explicou João Goulão, embora esclarecendo não ser possível afirmar  com segurança qual o peso relativo de cada uma dessas componentes. 

Embora esta evolução dos números não possa ser diretamente atribuída  à crise, o presidente do SICAD reconhece que há "outros fenómenos relacionados  com a crise, nomeadamente as recaídas e as readmissões de pessoas com passado  de uso de heroína, e que se estão a aproximar dos serviços". "Essa, do nosso ponto de vista, é uma consequência mais legítima de  correlacionar com a questão da crise do que propriamente os números globais",  afirmou. 

Segundo o relatório, em 2012 procuraram os serviços 4700 pessoas por  risco de recaída, 3897 só relacionadas com drogas (mais 1883 do que em 2011). Entre estes casos de readmissão por causa de drogas, a heroína está  no topo, com uma procura por parte de 2418 pessoas em 2012 (mais 1066 do  que em 2011).  No entanto, em setembro deste ano, apenas 906 pessoas foram readmitidas,  uma descida acentuada que os responsáveis ainda não sabem explicar. 

Quanto ao número de "utentes ativos" nas unidades de tratamento, em  2012 eram, no total, 37.128, sendo 29.064 só devido a substâncias ilícitas.

Discriminando por tipo de droga, o relatório revela que havia nesse  ano 18.153 consumidores de heroína ativos nos serviços, ainda assim um número  que não se compara aos 100 mil consumidores que se estima terem existido  em Portugal em 1995, sublinha João Goulão.  "A heroína foi o inimigo público número um em Portugal, que devastou  gerações. Há algum risco de recrudescimento, sobretudo à custa de antigos  consumidores que estavam parados e que aparecem recaídos", disse. 

No entanto, a preocupação do SICAD recai agora também sobre novas "substâncias  emergentes", nomeadamente o "crack", e o consumo excessivo do álcool, "usado  um pouco como um antidepressivo, calmante, alguma coisa que funciona como  um amortecedor do sofrimento". 

Sobre o "crack", o responsável salientou que é uma droga que está a  "aparecer no nosso mercado, na nossa sociedade" e que é um sucedâneo da  cocaína, tradicionalmente uma droga relacionada com ambientes festivos e  com uma sociedade com poder aquisitivo mais elevado.  "Estes são sucedâneos mais baratos, a pasta base e o crack, altamente  geradores de adição, altamente geradores de degradação e com efeitos comparáveis  à heroína, nos contextos de outros tempos, que todos nos lembramos de ver  em Portugal", frisou.  

Não sendo ainda um fenómeno com grande peso na sociedade portuguesa,  João Goulão assinala que é um fenómeno emergente e que concentra as preocupações  do SICAD, na procura de "mecanismos eficazes para o contrariar". 

 

     

 

Lusa