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Manifestantes dizem que a prova de acesso pretende "abater" os professores contratados 

A prova de acesso à carreira docente, proposta  pelo Ministério da Educação, não é "digna" e tem como objetivo "abater os  professores contratados" do sistema de ensino, denunciaram alguns docentes  hoje concentrados junto da Assembleia da República. 

MARIO CRUZ

"Este Governo põe, pura e simplesmente, todos os contratados a realizar  essa prova e isso leva-nos a considerar que o único objetivo é conseguir  dinheiro com os 20 euros por prova  (valor da inscrição por docente) e tentar  eliminar do sistema bastante professores", disse, em declarações à Lusa,  Sónia Santos Dias, uma das promotoras do protesto que reuniu hoje algumas  centenas de professores, a maioria contratados, junto das escadarias do  Parlamento. 

Docente há cerca de cinco anos, com formação na área de Biologia/Geologia,  Sónia Santos Dias é uma professora contratada que foi colocada este ano  numa escola na área da Lisboa. 

"Viemos protestar porque achamos que não é digno proporem aos professores  uma coisa depois de estarmos muitos anos a lecionar, nomeadamente no dia (18 de dezembro) em que começam as reuniões para a avaliação do primeiro  período dos alunos", referiu à Lusa Patrícia Santos, também professora contratada,  que leciona há sete anos. 

Patrícia Santos, professora de Português/Inglês do segundo ciclo, admite  que a Prova de Avaliação de Capacidades e Conhecimentos (PACC) podia ser  feita após a saída da faculdade, "para todos, a nível nacional", mas "não  ao fim de 10, 15 ou 20 anos de serviço". 

Porque, na opinião da docente, não vai mudar a situação das pessoas:  "Os que estão desempregados, continuarão desempregados, os empregados continuarão  empregados a fazer o mesmo". 

"Não são 20 euros que vão mudar a situação dos professores do país",  reforçou Patrícia Santos, que exibia uma faixa onde se podia ler "A prova  é todos os dias na sala de aula". 

Já Sofia Barcelos, com nove anos de serviço, recordou que todos os professores  que estão no sistema educativo vêm de um curso via ensino, que passaram  por diversos estágios. 

"São professores que dão prova de trabalho há muitos anos. Temos professores  contratados com 17 anos de trabalho, 20 anos de trabalho", destacou a professora  contratada na área da Educação Especial, que também é dirigente sindical.

"Somos o único grupo dentro da classe docente que somos avaliados anualmente,  com todas as menções. (...) A nossa maior prova ao longo destes anos tem  sido a nossa sala de aula e as avaliações de desempenho as quais fomos sujeitos",  sublinhou. 

Sofia Barcelos denunciou também que esta prova vem "descredibilizar  as instituições de ensino superior" onde professores foram formados, "instituições  essas que são acreditadas e homologadas pelo Ministério da Educação e Ciência".

Sobre as instituições de ensino superior, Sónia Santos Dias lamentou  não sentir o apoio destas entidades. 

"Outra coisa que nos afeta bastante é não sentir o apoio dos institutos  superiores que nos formaram e que neste momento corroboram com o Ministério  da Educação para que a prova seja feita e para que sejamos eliminados do  sistema", disse a promotora do protesto, que surgiu de forma espontânea  nas redes sociais. 

Apelando à união de todos os professores portugueses, Sofia Barcelos  destacou que a prova proposta pelo ministério tutelado por Nuno Crato surgiu  "numa primeira fase, para abater os professores contratados", alertando,  no entanto, que o objetivo principal da medida é atingir os professores  que estão no quadro.  

"É uma questão que diz respeito a todos os professores em Portugal,  porque isto é um atentado contra a nossa dignidade", concluiu. 

 Durante o protesto em Lisboa, vários professores usaram da palavra e  falaram das respetivas situações profissionais. Perto do final da concentração,  os docentes fizeram uma fogueira com cópias dos respetivos certificados  de habilitações. 

A concentração em Lisboa inseriu-se numa jornada nacional que incluiu  ações de protesto em Braga, Coimbra, Santarém e Évora. 

A Federação Nacional de Educação (FNE) decidiu hoje realizar uma greve  a 18 de dezembro, dia da realização da prova de avaliação de conhecimentos  e competências dos docentes.

Lusa