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CGTP diz que Ministro tem "batata quente nas mãos" em relação aos Estaleiros de Viana

O secretário-geral da CGTP disse hoje que o  ministro da Defesa está "com uma batata quente nas mãos", e que Aguiar-Branco  "não sabe qual vai ser o futuro" dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo  (ENVC). 

MIGUEL A. LOPES

 "O senhor ministro, neste momento, digamos que está com uma batata quente  nas mãos. Percebe que nós temos razão (nos argumentos apresentados) e sabe que o encerramento dos estaleiros trará inevitavelmente consequências e  prejuízos gravíssimos à economia nacional e ao tecido social", afirmou Arménio Carlos, após uma reunião com José Pedro Aguiar-Branco. 

Caso o negócio da subconcessão dos ENVC à Martifer se concretize, o  secretário-geral da CGTP frisa que "nem o próprio ministro ousa, tão-pouco,  avançar com a ideia do futuro" da empresa.  

"Ele não sabe. Como é que é possível entregar uns estaleiros destes  sem haver um caderno de encargos e compromissos de carteira de encomendas  e de manutenção de empregos? O Governo apenas diz: eu quero livrar-me disto  o mais depressa possível e quem vier que feche a porta. E quem vier vai  fechar a porta de forma errada", alertou Arménio Carlos. 

Durante a reunião, a comitiva da CGTP reiterou ao ministro que continua  "firmemente convencida" de que os estaleiros navais têm futuro.  

Arménio Carlos lembrou o potencial de negócio para a indústria naval  com a obrigatoriedade da marinha mercante ter de introduzir um segundo casco  nos navios, as crescentes dúvidas sobre a Martifer, considerada uma empresa  "sem credibilidade" e com um "passivo enormíssimo (superior a 370 milhões  de euros)", e a questão da alegada concorrência desleal invocada pela Comissão  Europeia quanto ao financiamento de empresas públicas por parte do Estado.

"Ainda recentemente, foi o Estado que interveio com seis mil milhões  de euros para resolver o buraco e a fraude do BPN. Não se justifica que  a Comissão Europeia tenha dois pesos e duas medidas", disse o líder da central  sindical. 

"Para ajudar o investimento no setor produtivo não se pode fazer (apoiar),  porque põe em causa a concorrência desleal, mas para tapar buracos do setor  privado financeiro já é o erário público que pode pagar. Isto não faz sentido",  criticou Arménio Carlos, acrescentando que, neste ponto, o ministro "reconheceu"  esta "dicotomia" de posições. 

O secretário-geral da CGTP deixou ainda outro alerta quanto às possíveis  forças externas que, no seu entender, estão empenhadas no encerramento dos  estaleiros de Viana do Castelo. 

"É uma postura política e ideológica da Comissão Europeia para dizimar  a indústria naval no sul da Europa, nomeadamente na Galiza e em Viana do  Castelo, e assim retirar estas empresas que são fortes concorrentes à aquisição  da carteira de encomendas da modernização dos navios com a introdução do  segundo casco", afirmou. 

"Está-se tudo a preparar para ir para os estaleiros da Alemanha, para  alguns estaleiros do centro da Europa e para os estaleiros da Polónia",  avisou Arménio Carlos. 

O secretário-geral da CGTP disse ainda que vai pedir uma de audiência  ao comissário europeu da Concorrência, Joaquín Almunia. 

 

     

Lusa