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Relação manda repetir julgamento de Manuel Godinho absolvido de suborno a fiscal 

O Tribunal da Relação do Porto mandou repetir  o julgamento que absolveu o sucateiro Manuel Godinho e mais dois arguidos  de um crime de corrupção, num processo que resultou de uma certidão do caso  "Face Oculta", disse hoje fonte judicial. 

PAULO NOVAIS

O acórdão dos juízes desembargadores da Relação vem dar razão ao Ministério  Público (MP), que interpôs recurso da decisão de primeira instância, considerando  que a prova produzida e examinada durante o julgamento impunha "conclusão  diversa" do acórdão recorrido. 

Manuel Godinho era suspeito de ter mandado a sua secretária pessoal  dar 2.500 euros a um funcionário da Administração da Região Hidrográfica  do Centro para evitar a fiscalização da extração de areias numa propriedade  sua, a Quinta dos Ananases, em Ovar, em 2009. 

Em dezembro de 2013, os três arguidos foram absolvidos pelo Tribunal  de Ovar da prática de um crime de corrupção, por falta de provas. 

Inconformado com a decisão, o MP interpôs recurso a pedir a condenação  dos arguidos, alegando que o coletivo de juízes deveria ter dado como provada  a entrega de 2.500 euros ao vigilante da natureza, com base numa escuta  telefónica onde Manuel Godinho manda a sua secretária colocar aquela quantia  num envelope para entregar ao fiscal. 

No recurso, o procurador da República responsável pelo caso diz que  o facto de as contas do funcionário da Administração da Região Hidrográfica  do Centro não espelharem o recebimento do dinheiro "não se mostra relevante".

"Tratou-se de uma quantia facilmente dissipável e dissimulável na satisfação  das despesas do dia-a-dia", explica o magistrado, adiantando não ser expectável  que o arguido tivesse depositado a quantia recebida. 

O procurador diz ainda não ter ficado com dúvidas de que o fiscal se  deslocou à Quinta dos Ananases na sequência de uma denúncia anónima e, embora  fosse manifesta a extração de inertes, "não lavrou o competente auto de  notícia ou, pelo menos, a respetiva informação de serviço dando nota do  sucedido". 

Na semana passada, o Tribunal de Aveiro condenou Manuel Godinho a uma  pena única de 17 anos e meio de prisão, em cúmulo jurídico, no âmbito do  processo "Face Oculta". 

O tribunal deu como provados 49 dos 60 crimes de que Godinho estava  acusado, entre os quais associação criminosa, corrupção, tráfico de influência  e furto. 

O processo "Face Oculta" está relacionado com uma alegada rede de corrupção  que teria como objetivo o favorecimento do grupo empresarial do sucateiro  Manuel Godinho, nos negócios com empresas do setor empresarial do Estado  e empresas privadas. 

O Ministério Público (MP) acusou 36 arguidos, incluindo duas empresas,  de centenas de crimes de burla, branqueamento de capitais, corrupção e tráfico  de influências. 

Lusa