País

Elina Fraga avisa que há um "buraco negro" no Citius onde se acumulam os processos novos

A bastonária da Ordem dos Advogados alertou  hoje que há um "buraco negro" no Citius, onde se estão a acumular as ações  que entraram na plataforma informática, depois de 15 de setembro, mas que  não são recebidas, nem distribuídos, nos tribunais.

"Há um buraco negro onde se estão a acumular os processos novos", declarou  Elina Fraga à agência Lusa, explicando que os advogados conseguem imprimir  o documento que confirma a entrega da ação no Citius, mas quando telefonam  para o tribunal, o funcionário judicial diz que "não consegue ver se a peça  está lá", nem fazer a sua distribuição a um juiz.  
  
Segundo a bastonária, as ações novas não estão a ser distribuídas e  esta anomalia contraria o recente comunicado do Ministério da Justiça a  informar que, a partir de 15 de setembro, o Citius estava apto a tramitar  os processos novos que dessem entrada no sistema naquela data.  
  
Elina Fraga referiu que mantém-se "a paralisia do sistema judicial"  e que no Ministério da Justiça "está toda a gente a acusar um desnorte"  quanto à reforma da organização judiciária que foi "precipitada", apesar  dos insistentes "avisos" da Ordem dos Advogados e do Sindicato dos Funcionários  Judiciais.  

Quanto à declaração do presidente do Instituto dos Equipamentos da Justiça,  Rui Mateus Pereira, no Fórum TSF, de que o Governo já sabia que o Citius  vai bloquear no prazo máximo de três anos, pelo que o colapso agora verificado  estava pré-anunciado, a bastonária entende que os responsáveis do MJ "agora  querem dar a impressão aos cidadãos que o problema já vinha do passado",  quando a 26 de agosto (quando foi encerrado para o novo mapa judiciário)  "funcionava e não havia problemas relevantes".  
  
    "Pretende-se dar a aparência que o Citius estava em colapso", observou  Elina Fraga, acrescentando que se isso fosse verdade então teria sido obrigação  do governo arranjar uma plataforma informática alternativa antes de avançarem  com a nova organização judiciária.  
  
    Na quarta-feira, Rui Mateus Pereira assumiu que foi ele que comunicou  à ministra da Justiça que o Citius estaria a funcionar devidamente a 01  de setembro, mas que o sistema não aguentou a migração de 3,5 milhões de  processos, 80 milhões de documentos e 120 mil milhões de atos processuais. 
  
"O que correu mal foi a migração desses dados para serem integrados  nas novas comarcas", contrapôs a bastonária, dizendo que o que motiva "grande  indignação é a falta de reconhecimento da ministra do colapso geral do sistema  e que isso resultou da sua própria negligência".  
  
Elina Fraga considera que os tribunais estão paralisados e que a suspensão  da atividade daquele órgão de soberania significa que "um dos pilares do  Estado de direito não funciona".  

Relativamente ao entendimento da ministra que não vão ocorrer prescrições  por causa das anomalias do Citius, a bastonária diz que é "mentira" e adverte  que existe o risco de prescreverem milhares de coimas resultantes de contra-ordenações,  quer sejam multas de trânsito ou contra-ordenações de natureza laboral ou  ambiental, bem como as coimas aplicadas pelas entidades reguladoras.  
  
O risco de prescrição existe ainda para o processo-crime, apontou.  
  
  LUSA