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Centenas de pessoas exigem em Lisboa libertação dos ativistas angolanos

Centenas de pessoas concentraram-se no final da tarde de hoje no Rossio, em Lisboa, numa nova ação de protesto para exigir a libertação dos ativistas presos em Angola e com a participação de diversas organizações da sociedade civil. "Não às prisões arbitrárias", era a frase que sobressaía no painel colocado junto à estátua de D. Pedro IV e da responsabilidade da Solidariedade Imigrante. "Liberdade aos ativistas presos em Angola", referia outro painel, enquanto crianças desenhavam no chão em cartões e com lápis de cor a frase "Liberdade Já". Ao lado, alguns dos presentes exibiam folhas brancas onde estavam impressos os nomes dos 15 ativistas detidos em Luanda. Membros da Amnistia Internacional (AI), da Associação José Afonso (AJA), diversas personalidades, comentadores, escritores músicos, e diversos dirigentes do Bloco de Esquerda (BE), também se juntaram ao protesto, convocado nas redes sociais pelo coletivo Liberdade aos Ativistas Presos em Angola (LAPA). (Fotos Lusa)

O ex-líder do BE Francisco Louçã e a atual deputada Mariana Mortágua, o também deputado do PAN André Silva, o cantor Sérgio Godinho, o escritor Gonçalo M. Tavares ou o historiador e comentador Pacheco Pereira marcaram presença no protesto.

"[Em Angola] há uma correlação entre aquilo que é uma espécie de cleptocracia e aquilo que é a perseguição dos direitos humanos", disse à Lusa Pacheco Pereira.

"Há uma direta correlação entre a falta de liberdades políticas, a perseguição às pessoas, com aquilo que é uma classe dirigente que na prática rouba o povo angolano. Tem que ser dito com todas as letras, porque se pode perguntar de onde vieram aquelas fortunas. Como é que aqueles empresários têm milhões e milhões e milhões sem nunca se conhecer a sua origem, porque o dinheiro depois multiplica-se, de saber como os obtiveram", observou o antigo responsável social-democrata, que também deixou críticas à atuação do Governo de Lisboa.

"Há uma completa tibieza do Governo português, que a primeira que disse foi que se tratava de uma matéria interna do Governo angolano. Tal nunca pode ser dito em relação a questões dos direitos humanos", assinalou.

"Temos obrigações internacionais em matéria de direitos humanos e isso significa que havendo um problema de direitos humanos não se pode tratar como uma questão interna de nenhum país".

Pacheco Pereira diz ter antes detetado "o mínimo diplomático para não parecer mal, e aliás por iniciativa de embaixadores de outros países. Mas está muito longe daquilo que era necessário tendo em conta que quem está a fazer greve de fome é um cidadão que também tem a nacionalidade portuguesa".

Uma opinião partilhada por Francisco Louçã, ex-líder do BE e professor catedrático de Economia, e também presente na ação de protesto, após ter estado em Luanda na semana passada para lecionar na universidade local.

Numa referência às detenções de Luaty Beirão, que se mantém em greve de fome, e dos restantes 14 ativistas, disse ter testemunhado "que se tratavam de cinco reuniões em que se discutiam manifestações, a liberdade de opinião, a expressão da rebeldia de jovens", afirmou à Lusa.

Loução também aplaudiu os diversos apelos que têm sido feitos em Portugal. "Têm inteira razão, é preciso proteger a vida deste homem que está a entrar no segundo mês de greve de fome porque em Portugal como em Luanda há um bem essencial que é o direito da liberdade de opinião. Não pode ser posto em causa e por isso a defesa destes jovens é tão essencial para todos".

Na praça central de Lisboa, os presentes juntaram-se numa grande roda para escutar o protesto de um angolano que em ritmo musical e no centro soltava as frases "Viva a Liberdade", "Libertem, já, libertem", "Viva Portugal", com a ajuda de um megafone.

Mais longe, junto às colunas de som, outro grupo escutava uma improvisação de Sérgio Godinho: "A democracia é o pior de todos os sistemas com exceção de todos os outros...".

Junto ao cantor, Catarina Limão do LAPA, preparava-se para ler um comunicado e denunciar as prisões.

Em declarações à Lusa explicou que este coletivo é formado por independentes que se juntaram voluntariamente e se conheceram por causa desta situação, estando solidários com os ativistas presos e com as famílias. Já organizaram diversas vigílias, concentrações, e o LAPA foi ainda o primeiro grupo a organizar a primeira concentração frente ao consulado angolano em 17 de julho.

Agora, pretendem promover estas concentrações todas as quartas-feiras, no Rossio, até que a situação seja solucionada, e Catarina Limão aponta como a próxima reivindicação a concessão da liberdade provisória, pelo facto de já ter sido marcado o julgamento.

"Devem aguardar o julgamento em casa uma vez que já acabaram nos 90 dias e prisão preventiva há 30 dias, tudo já passou dos prazos legais, e mesmo dentro dos 90 dias legais não houve formalização da acusação, isso só aconteceu após ter passado o prazo legal", assinalou.

"Há uma série de coisas que fazem esta detenção totalmente ilegal. Neste momento há um segundo habeas corpus que foi submetido, está à espera de resposta e poderá vir a conseguir a liberdade provisória, pelo menos para aguardarem o julgamento em casa", acrescentou a ativista.