O desenho era a melhor forma de comunicar quando as crianças tinham acabado de chegar, o desenho surgiu da relação com essas crianças, explicou à Lusa Sofia Perpétua, uma das responsáveis pela exposição.
Mas foi da cabeça de André Naddeo, um jornalista brasileiro, que tudo surgiu. Naddeo, como explicou à Lusa, fez o que chamou "jornalismo voluntário", primeiro durante 45 dias no porto de Pireu, na Grécia, onde no ano passado chegaram milhares de refugiados, e depois nas ruas de Atenas, por onde muitos outros refugiados se espalharam, ocupando lugares vagos, casas abandonadas ou vazias.
"Foi para mim a maneira mais justa de cobrir a maior crise humanitária depois da segunda guerra. A missão da Drawfugees passa por dar voz a essas crianças dando-lhe canetas e lápis para elas se expressarem", explicou.
Com essas crianças, com as suas famílias, acabou por criar uma relação de confiança. Todos os desenhos que expõe a partir de hoje em Lisboa, todas as fotografias, tiveram a anuência das famílias, com quem aliás, disse, mantém uma ligação.
Como a família de Sana Snizard, uma menina afegã de seis anos que desenhou um helicóptero norte-americano a bombardear-lhe a casa, ela triste a ter de deixar o país.
Roman Snizard, com 14 e hoje na Alemanha com o irmão mais velho, deseja ver chegar a irmã Sana e o resto da família, ainda no campo de refugiados de Eleonas, em Atenas.
"A minha terra era tão bonita, tínhamos tudo o que precisávamos", escreveu Roman, que desenhou também uma casa e hum helicóptero a largar bombas.
Aos meninos de Pireu não lhe foi pedido nada em relação ao desenho mas aos de Atenas Naddeo pediu um desenho sobre o que queriam ser no futuro.
E Naddeo aponta para Arsyan Siloo, um menino iraquiano de nove anos que quer ser jogador de futebol por causa de Cristiano Ronaldo. "Eu e o meu pai adoramos vê-lo jogar, é tão inspirador".
Arsyan é de origem yazidi, uma comunidade religiosa do norte do Iraque. A sua aldeia foi ocupada pelo grupo terrorista Estado Islâmico e com a família teve de fugir pelas montanhas ao norte de Sinjar, no Iraque. Viveu mais de um ano num campo de refugiados e está hoje com os pais e os três irmãos na Alemanha.
São ao todo mais de duas dezenas de desenhos, com histórias, como a de Aoumar Mazan, um menino sírio de nove anos a viver com a mãe e dois irmãos num campo de refugiados de Atenas e que quer ser motorista porque era esse o trabalho do seu pai.
Como o desenho de Argan, o menino afegão que não vai esquecer-se da viagem de barco da Turquia para a Grécia.A todos, os meninos e meninas, as histórias, as esperanças, os desejos e os medos, André Naddeo trouxe a Lisboa, até dia 12.
Lusa