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Novo Banco. Comissão de inquérito aguarda carta de advogados sobre Rui Pinto

Grupo de advogados pediu ao presidente da Assembleia da República e ao presidente da comissão de inquérito ao Novo Banco, que Rui Pinto não seja ouvido no Parlamento, por considerarem violação da Constituição

Rui Pinto, criador da plataforma Football Leaks
Rui Pinto, criador da plataforma Football Leaks
MARIO CRUZ

A Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas no Novo Banco ainda não recebeu a carta de vários advogados a pedir que o 'hacker' Rui Pinto não seja ouvido no Parlamento, disse o seu presidente, Fernando Negrão, à Lusa.

"Não recebemos ainda nada", disse à Lusa Fernando Negrão, deputado do PSD que preside à comissão, acrescentando que só falará do documento depois de o conhecer oficialmente e o ler.

Um grupo de advogados pediu ao presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, e ao presidente da comissão de inquérito ao Novo Banco, Fernando Negrão, que Rui Pinto não seja ouvido no Parlamento, por considerarem violação da Constituição.

"Não permita que seja violada a Constituição ao admitir como prova no Inquérito Parlamentar sobre o Novo Banco aquela que foi obtida com acesso criminoso aos sistemas informáticos de advogados, magistrados e instituições públicas e privadas", pode ler-se na carta do Forum Penal - Associação de Advogados Penalistas, dirigida a Ferro Rodrigues e Fernando Negrão, a que a Lusa teve acesso e, entretanto, publicada no Twitter de Rui Pinto.

O documento foi aprovado em reunião do Conselho Consultivo do Forum Penal a 20 de janeiro, e subscrita pela maioria dos membros da direção no dia seguinte.

A Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, como é oficialmente designada, tem marcada para terça-feira, às 14:30, uma reunião de Mesa e Coordenadores (que decorre à porta fechada), cuja ordem de trabalhos contém quatro pontos: ponto de situação da documentação recebida, questões jurídicas relevantes, programação das audições e outros assuntos.

Relativamente à receção, pela comissão, do documento conhecido como relatório Costa Pinto, elaborado pelo presidente da comissão de auditoria do Banco de Portugal, João Costa Pinto, sobre procedimentos e atuação do Banco de Portugal na resolução do Banco Espírito Santo (BES), o presidente entendeu que não há "nenhumas" implicações para a comissão pelo facto de os deputados não o poderem tornar público.

"Será usado quando for preciso usá-lo, e se for preciso usá-lo de uma forma clara e que envolva o prejuízo para a confidencialidade, pode fazer-se uma reunião fechada", esclareceu o deputado social-democrata.

Fernando Negrão disse ainda que todos os documentos rececionados como confidenciais mantêm esse estatuto, podendo ele, eventualmente, ser alterado posteriormente.

O presidente da comissão parlamentar disse ainda à Lusa que pouco mais de metade dos documentos pedidos pelos deputados já foram rececionados, mas que outros, nomeadamente de instituições europeias, permanecem por receber devido a pedidos de prorrogação de prazo de resposta.

Entre os signatários da carta a pedir que o parlamento não ouça Rui Pinto encontra-se o Conselho Consultivo da associação, onde se encontram nomes como o do presidente Germano Marques da Silva, João Medeiros, Manuel Magalhães e Silva, Paulo Saragoça da Matta, Raúl Soares da Veiga, Rogério Alves, Rui Patrício ou Teresa Serra.

Os signatários defendem, no documento, que "os titulares de cargos públicos não têm o direito de perdoar crimes nem de se servirem do produto desses crimes, sejam quais forem as motivações", considerando que "ao admitirem-no, são cúmplices dos atos criminosos e estimulam os criminosos na senda do crime".

"É tempo de resistir, é tempo de alertar, é tempo de gritar bem alto que a democracia corre perigo porque a democracia não é mera regra aritmética, a democracia é liberdade com respeito dos valores e direitos que a Constituição elege", advogam.

Rui Pinto, de 32 anos, responde por um total de 90 crimes no caso 'Football Leaks': 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.

O criador do 'Football Leaks' encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, "devido à sua colaboração" com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu "sentido crítico", mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.

No âmbito da Comissão de Inquérito ao Novo Banco, o PAN pediu uma audição a Rui Pinto, "para que apresente os documentos que afirma comprovarem um desvio de 600 milhões de euros através da criação de empresas meramente instrumentais, depósitos fictícios, e transferências bancárias para 'offshores' como as Ilhas Virgens Britânicas e as Seychelles".