Sem querer comentar o caso em concreto “e doloroso” de Jéssica, a menina que morreu esta semana em Setúbal, o Presidente Marcelo lembrou que “muitas vezes falamos na miséria económica”, vincado que essa faz-se acompanhar muitas vezes da “miséria moral, que também merece uma reflexão”.
“Não queria referir-me a casos concretos e dolorosos, muito dolorosos. É uma preocupação de todos os portugueses há muito tempo, o cuidado das crianças, a proteção, o acompanhamento daquelas que estão mais frágeis, mais dependentes, e portanto mais suscetíveis de serem exploradas“, vincou Marcelo.
“O que todos esperamos nestes casos é que se pegue nos que surgem, os que são conhecidos e não sabemos se há muitos mais, (…) e retiremos as lições quanto aquilo que por um lado deve haver de acompanhamento dos mais frágeis por instituições, por outro lado o que há de valores. (…) Muitas vezes falamos na miséria económica e financeira, depois há uma miséria moral (…) e ela só por isso também merece uma reflexão”.
No sentido de, prosseguiu Marcelo, se perceber “o que pode justificar que pessoas vão tão longe (…) não medindo que estão a sacrificar o que é há de mais sagrado que é o respeito da dignidade da pessoa, sobretudo de uma criança“.
O que se sabe sobre a morte de Jéssica
O caso tem ainda contornos por esclarecer, mas sabe-se que as três pessoas detidas pela Polícia Judiciária (PJ) por suspeita do homicídio da menina são uma mulher, a quem a mãe da criança devia dinheiro, inicialmente identificada como ama, e o marido e a filha desta suspeita.
Os três detidos são suspeitos dos crimes de rapto, extorsão, ofensas à integridade física e homicídio qualificado.
Num comunicado divulgado ao início da manhã desta quinta-feira, a PJ refere apenas as detenções de um homem de 58 anos e duas mulheres de 52 e 27 anos, sem identificá-los.
A morte da menina ocorreu na segunda-feira, depois de a mãe ter ido buscá-la a casa da suspeita, identificada pela progenitora às autoridades como ama da criança.
De acordo com a mãe, a menina esteve cinco dias ao cuidado da mulher e tinha sinais evidentes de maus-tratos, como hematomas, pelo que foi chamada a emergência médica.
A criança foi assistida na casa da mãe e transportada ao Hospital de São Bernardo, onde foi sujeita a manobras de reanimação, mas não sobreviveu aos ferimentos.
Segundo a PJ, a mãe da menina foi “ardilosamente enganada” e levada a entregar a filha por conta de uma dívida de 400 euros que tinha para com a suspeita.
Nos cinco dias em que a criança permaneceu na casa dos detidos, terá sofrido maus-tratos severos mas, e apesar de das suspeitas iniciais de eventuais agressões sexuais, esses indícios não foram confirmados na autópsia realizada esta quarta-feira.
Saiba mais
- Morte de menina em Setúbal? “Obviamente, aquilo que aconteceu é algo que choca todos”
- “Falhou todo o processo, desde a comunidade, à CPCJ, à saúde e à justiça”
- O que falhou no caso da criança que morreu em Setúbal? As explicações dos especialistas
- Morte de criança de três anos em Setúbal: padrasto confirma dívida da companheira
- “É importante que a sociedade não se coíba de reportar as situações”
- Dívida estará na origem dos crimes, detidos serão presentes a primeiro interrogatório judicial
- Morte de criança em Setúbal: ama, marido e filha detidos