O diretor-adjunto do semanário Expresso analisou, esta terça-feira na SIC Notícias, a polémica contratação de Sérgio Figueiredo para o Ministério das Finanças. David Dinis reconheceu que estamos perante um “caso sensível”, apesar de explicar que a contratação em si não tem nada de "irregular (...), ou seja, não há nada nisto que não tenha sido feito por outros Ministérios”.
É evidentemente um caso sensível, desde logo, politicamente sensível (...) porque Fernando Medina foi contratado por Sérgio Figueiredo (...) para ser comentador da TVI e isso, evidentemente, cria uma perceção de que pode haver favores mútuos
Mas para David Dinis é “bastante claro que Fernando Medina contratando Sérgio Figueiredo sabia (...) que isto tinha o seu grau delicado e que traria a sua fatura (...) [Mas] também tem para Fernando Medina (...) um lado bom. [Sérgio Figueiredo] é uma pessoa muito experiente, com conhecimento do mundo político, do mundo empresarial e com várias experiências profissionais".
O diretor-adjunto do semanário falou, porém, em alguns problemas que esta contratação pode trazer. “O primeiro é o tipo de nomeação porque nós estamos a falar de um ajuste direto (...), mas não é propriamente a maneira mais habitual”, disse.
O porquê do ajuste direto
David Dinis explica que os ajustes diretos “normalmente, acontecem quando um ministro quer pagar mais à pessoa que vai entrar, porque se Sérgio Figueiredo fosse chamado como assessor a tabela salarial era francamente mais baixa”.
Parece-me que houve aqui algum descuido do ponto de vista político, porque pagar o mesmo que o próprio Fernando Medina vai ganhar para um consultor é menos habitual e menos politicamente correto
O ex-diretor da TVI foi contratado para a função de consultor estratégico para fazer a avaliação e monitorização do impacto das políticas públicas. Para David Dinis considera que “há um equívoco no que diz respeito à função exata para a qual ele é nomeado”.
O diretor-adjunto do Expresso sustenta que “uma nomeação externa a ganhar o mesmo que o ministro [das Finanças], feito por ajuste direto, abre muitos equívocos neste processo. É evidente que alguém com as qualificações de Sérgio Figueiredo pode ajudar neste propósito, mas esta missão é estritamente política. Isto adequa-se a alguém que faz parte integrante do gabinete do ministro”.
Ele [Sérgio Figueiredo] sendo consultor pode trabalhar para o Ministério das Finanças e fazer análises de sustentabilidade para outras empresas? Tenho enormes dúvidas do ponto de vista político
Quanto a consequências, David Dinis acredita que o ministro das Finanças vai pagar "um preço pelas críticas todas que está a levar pela decisão que tomou”.
Nascido em 1966, Sérgio Figueiredo já foi diretor do Diário Económico e do Jornal de Negócios, tendo também trabalhado para o canal televisivo RTP2. Entre 2007 e 2014 foi diretor da Fundação EDP e, entre 2015 e 2020, foi diretor de informação da TVI.
Questionado pela SIC, o Ministério das Finanças confirma a contratação por "ajuste direto" e que tem a "duração de dois anos". Quanto à remuneração é "equiparada e limitada ao vencimento base do Ministro das Finanças", ou seja, Sérgio Figueiredo irá auferir um ordenado ilíquido equivalente ao vencimento mensal de um ministro, correspondendo a 4.767 euros. Sérgio Figueiredo terá começado a desempenhar as suas funções a 29 de julho.