Trinte e cinco pessoas foram, esta quarta-feira, detidas numa operação da Polícia Judiciária no distrito de Beja por suspeitas de tráfico humano. Centenas de imigrantes estariam a ser escravizados em campos agrícolas.
Luciana Belita, mulher de um detido, ainda mal se recompôs do susto. Acordou às 04:00 em sobressalto, com a Polícia Judiciária a entrar-lhe em casa para deter o marido. No telemóvel, guardou fotografias da porta arrombada.
"Bateram-me. Eu não fiz nada, só trabalho no campo", contou à SIC.
Veio da Roménia para Portugal há 17 anos. Vive e trabalha com o marido em Cuba, no Alentejo.
Nicolai, o marido de Luciana, foi uma das 35 pessoas detidas esta quarta-feira numa megaoperação com 400 inspetores da Polícia Judiciária no Baixo Alentejo.
Os detidos, portugueses e estrangeiros, estão indiciados pela prática de crimes de tráfico de pessoas, associação criminosa, branqueamento de capitais e falsificação de documentos.
São suspeitos de fazerem parte de uma alegada rede criminosa que angariava e escravizava imigrantes em campos agrícolas no distrito de Beja.
Na casa, onde a PJ entrou esta quarta-feira, vivem mais de 20 ou 30 imigrantes, segundo relatos de vizinhos.
A solicitadora do escritório ao lado foi outra das detidas na operação. É suspeita de criar empresas fantasma e de falsificar documentos.
Foi levada para as instalações da PJ em Lisboa, como todos os outros suspeitos, que terão de ser ouvidos por um juiz de instrução até sexta-feira.
As vítimas
As vítimas foram levadas para Beja onde foram, entretanto, ouvidas.
São centenas de imigrantes que vêm de países como a Roménia, Moldávia, Índia, Argélia, Marrocos, Senegal ou Paquistão para trabalhar em campos agrícolas no Alentejo.
Assim que chegam, já devem dinheiro do alojamento e das viagens a quem os trouxe. O salário prometido, que não recebem, fica nas mãos dos intermediários, a maioria das vezes compatriotas.
Vivem em contentores sem condições mínimas e quando tentam queixar-se são ameaçados pelos empregadores.
Sem dinheiro e ilegais no país não lhes resta alternativa senão trabalhar sem descanso e sem salário.