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"Brincadeira parva e estúpida": o que disseram dois dos GNR julgados por agressões a migrantes

Nelson Lima e Diogo Ribeiro foram os únicos que aceitaram prestar declarações ao coletivo de juízes do Tribunal de Beja.

Fachada do tribunal de Beja.
Fachada do tribunal de Beja.
NUNO VEIGA

Dois dos sete militares da GNR acusados de sequestro e agressão a imigrantes em Odemira alegaram esta quarta-feira no início do julgamento, em Beja, que participaram numa "brincadeira parva" em que não tinham intenção de "fazer mal".

Nelson Lima e Diogo Ribeiro foram os únicos que aceitaram prestar declarações ao coletivo de juízes do Tribunal de Beja que está a julgar o caso, depois da identificação dos arguidos e de um resumo dos factos que lhes são imputados.

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"Foi uma brincadeira parva e estúpida", justificou o militar da GNR Nelson Lima, o primeiro a falar, dos dois que aceitaram prestar declarações, vincando que não encarou a situação "com maldade".

Também Diogo Ribeiro, o outro militar ouvido pelo coletivo, utilizou a expressão de "brincadeira parva" para se referir a um dos casos de agressões em que reconheceu ter uma régua para atingir as vítimas.

"Não era intenção fazer mal", argumentou, salientando que o objetivo desse episódio era a realização de "exercícios" físicos por parte de imigrantes."Se quisesse fazer mal, tinha ido buscar um bastão", acrescentou.

Sete militares acusados de 33 crimes contra imigrantes

O Tribunal de Beja começou esta quarta-feira a julgar sete militares da GNR acusados pelo Ministério Público (MP) de um total de 33 crimes contra imigrantes em Odemira, como sequestro e agressão, em casos ocorridos em 2018 e 2019.

Segundo a acusação do MP, o processo envolve quatro casos de sequestro e agressão de imigrantes por militares da GNR, então colocados no Posto Territorial de Vila Nova de Milfontes, em Odemira (Beja), ocorridos entre setembro de 2018 e março de 2019.

No despacho de acusação, de 10 de novembro de 2021, o MP referiu que os arguidos, "agiram em manifesto ódio" pelas vítimas, "claramente dirigido" às nacionalidades dos imigrantes, da região do Indostão.

Advogado espera absolvição do GNR João Lopes

O militar João Lopes é acusado de três crimes, um de abuso de poder, um de ofensa à integridade física qualificada e um de sequestro. No entanto, este militar nega ter participado nesta situação.

A Polícia Judiciária (PJ) também não conseguiu identificar a voz de João Lopes, mas o Ministério Público acuso-o com base na escala de serviço do dia 11 de Novembro de 2018.

O advogado disse que espera a absolvição de João Lopes, alegando que este não participou nos maus-tratos. Luís Cruz Campos afirmou que "não há provas" de que o seu cliente tenha participado nos casos de sequestro e agressões registados em vídeo que estão a ser julgados.

Segundo Cruz Campos, o arguido "não aparece em qualquer imagem", mas foi acusado pelo Ministério Público (MP) e está a ser julgado porque "houve um reconhecimento de voz por parte do comandante de posto".

"Espero fazer prova de que a voz não é dele, é fácil de ver, e que ele saia absolvido", adiantou, mostrando estar “perfeitamente confiante no desenlace deste processo”.

Os militares Nelson Lima, Diogo Ribeiro e Nuno Andrade são acusados de cinco crimes cada um, nomeadamente um de abuso de poder e quatro de ofensa à integridade física qualificada.

Já os arguidos Carlos Figueiredo e Paulo Cunha são acusados de dois crimes cada um, nomeadamente um de abuso de poder e um de ofensa à integridade física qualificada.

Na sessão de 5 de dezembro deverão ser ouvidas as testemunhas de defesa e feitas as alegações finais.