Dois cirurgiões do hospital Fernando Fonseca, mais conhecido por Amadora-Sintra, denunciam casos de “mortes e mutilações” no estabelecimento hospitalar, alegadamente por más práticas da equipa cirúrgica. O processo está a ser investigado por peritos independentes nomeados pela Ordem dos Médicos, avança o Expresso.
A denúncia deu entrada no hospital em outubro de 2022, segundo confirma ao semanário a administração do Amadora-Sintra. Inicialmente, eram referidos 17 doentes, mas o número subiu para 22 no final de novembro.
De acordo com a carta envida à Ordem dos Médicos, a que o Expresso teve acesso, um dos denunciantes afirma que a questão não está relacionada com “um médico em particular”, mas trata-se de “uma situação sistémica”. Escreve ainda ser seu “dever ético, profissional, pessoal, de cidadania alertar para quem existem situações de prejuízo de vida e qualidade de vida graves, com mortalidade e mutilações desnecessárias, evitáveis, que resultam de uma prestação de cuidados ao doente cirúrgico que não coincide com a legis artis”.
Na denúncia, são identificados vários casos. Por exemplo, o de um doente, com cerca de 60 anos, que foi operado ao pâncreas por suspeitas de um tumor que não existia, tendo ficado “em internamento prolongado, com complicações e nova cirurgia”. Um outro caso citado refere que um paciente operado a uma hérnia “acaba por morrer com peritonite por lesão do intestino, tratada por nova cirurgia que só acontece vários dias depois de ser evidente por análises que algo não estava bem”. É ainda citado o caso de uma paciente que foi operada a uma hérnia, mas, após a intervenção, ainda a teria. O cirurgião recusou realizar uma nova intervenção.
A administração do hospital confirma ter recebido, a 6 de outubro, uma “denúncia escrita de alegada má prática no Serviço de Cirurgia Geral”. De acordo com o Expresso, “de imediato deliberou a abertura de um processo de inquérito para o apuramento dos factos e eventuais responsabilidades”.
Também a Ordem dos Médicos e a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) foram notificadas da situação, tendo sido pedido pela administração do hospital uma investigação às denúncias. “A 26 de outubro de 2022, a Ordem dos Médicos indicou um médico perito para abertura de ‘procedimento de inquérito prévio’, que decorre”, avançam os responsáveis do hospital.
A IGAS garante ter aberto “um processo de natureza disciplinar para apurar os factos e aguarda resultados das investigações realizadas”. No inquérito preliminar aos primeiros 10 casos, a IGAS revela que “não houve violação da legis artis”.