O Hospital Fernando Fonseca (HFF) anunciou que as averiguações sobre os casos denunciados de alegada má prática clínica serão levadas "até às últimas consequências" e garante que, se houve erro, este "não será ignorado".
Numa mensagem em vídeo, em nome do Conselho de Administração, a diretora clínica do HFF - também conhecido como Hospital Amadora-Sintra -, Ana Valverde, garante que as averiguações "serão levadas às ultimas consequências" e que "se houve erro, não será ignorado".
"Sabemos que nos últimos tempos lidamos com situações de doença avançada complicadas, fruto dos três últimos anos de pandemia, mas, contudo, os nossos profissionais, em todas as áreas, fazem todos os dias o seu melhor para, de acordo com as boas práticas clínicas prestar os melhores cuidados aos nossos utentes", afirmou a diretora clínica na mensagem.
As declarações da responsável surgem na sequência de denúncias, divulgadas esta sexta-feira pelo jornal Expresso, indicando que mais de 20 doentes operados naquela unidade hospitalar "morreram ou ficaram mutilados", alegadamente por más práticas médicas.
“Denúncia foi encarada com a correspondente responsabilidade e seriedade”
No vídeo, a diretora clínica do Fernando Fonseca confirma que a unidade recebeu uma exposição escrita do ex-diretor do serviço de cirurgia, alegando más práticas clínicas relativamente aos colegas de cirurgia geral.
"Esta denúncia foi encarada com a correspondente responsabilidade e seriedade. De imediato foram desenvolvidas diligências e instaurado um processo de inquérito para apurar a verdade dos factos e as responsabilidades", afirma, adiantando que entre as diligências está o envio da denúncia para a Ordem dos Médicos, "para solicitar um processo de averiguação independente sobre as alegações do ex-diretor".
Ana Valverde refere ainda que, no próprio dia, o caso e as diligências tomadas foram comunicadas à Inspeção Geral das Atividades em Saúde (IGAS) e que o hospital iniciou "uma auditoria clínica do serviço de cirurgia geral".
Falando em nome do Conselho de Administração, a diretora clínica do Fernando Fonseca garante que "se houve erro, não será ignorado" e lembra que no ano passado foram realizadas naquela unidade 17.500 cirurgias.
A responsável transmite ainda uma mensagem de confiança nos profissionais do hospital, "quer do serviço de cirurgia geral, quer dos restantes serviços", que "zelam pela segurança e qualidade dos cuidados que prestam" aos utentes.
"As investigações estão em curso, feitas com rigor e independência, sob a responsabilidade de um perito nomeado pelo Colégio da Especialidade da Ordem dos Médicos. Muito em breve serão finalizadas e as conclusões comunicadas às entidades competentes", afirmou Ana Valverde.
A denúncia deu entrada em outubro de 2022
A denúncia deu entrada no hospital em outubro de 2022, segundo confirma ao semanário a administração do Amadora-Sintra. Inicialmente, eram referidos 17 doentes, mas o número subiu para 22 no final de novembro.
De acordo com a carta envida à Ordem dos Médicos, a que o Expresso teve acesso, um dos denunciantes afirma que a questão não está relacionada com “um médico em particular”, mas trata-se de “uma situação sistémica”.
Escreve ainda ser seu “dever ético, profissional, pessoal, de cidadania alertar para quem existem situações de prejuízo de vida e qualidade de vida graves, com mortalidade e mutilações desnecessárias, evitáveis, que resultam de uma prestação de cuidados ao doente cirúrgico que não coincide com a legis artis”.
Na denúncia, são identificados vários casos. Por exemplo, o de um doente, com cerca de 60 anos, que foi operado ao pâncreas por suspeitas de um tumor que não existia, tendo ficado “em internamento prolongado, com complicações e nova cirurgia”.