Os partidos de esquerda da Assembleia da República reagiram ao comunicado de António Costa no que diz respeito ao e-mail de Hugo Mendes à CEO da TAP sobre uma alteração do voo de Marcelo Rebelo de Sousa. Todos consideram que existe um desgaste governamental e um desrespeito pelas normas institucionais da gestão das empresas públicas.
Após as duas comissões de inquérito da semana passada, tanto da ex-CEO, como da ex-admnistradora Alexandra Reis, perduraram várias polémicas que ficaram conhecidas pelas intervenções de ambas as trabalhadoras da companhia aérea.
Alguns partidos já reagiram sobre a "incompetência" do Governo e ficou a pairar a dúvida sobre uma eventual moção de censura.
“Política portuguesa tem falta de liderança”
Para Rui Tavares, do Livre, os portugueses já não confiam nas instituições políticas, tendo em conta a prestação do atual Governo na condução de matérias estruturais para o país.
"Aquilo que posso dizer é o que o que maior parte dos portugueses sentem: a política nacional encontra-se desencorajadora e com falta de liderança que tenham o sentido de Estado suficiente para colocar o país focado no essencial, nas escolhas estratégicas de longo prazo e com desafios que não são pequenos", referiu o líder do partido de esquerda.
Da mesma forma, Rui Tavares considera que não está a ser discutido o essencial na comissão de inquérito à equipa administrativa da companhia aérea, realçando que o atual Governo pretende focar-se nas questões menores de forma estratégica.
“Na comissão não se discute qual deve ser o futuro modelo da TAP, não se percebe o que pode fazer uma TAP que dê lucro e creio que o país gostaria de receber dinheiro da TAP. Em cada comissão de inquérito parece que há um interesse do atual primeiro-ministro e dos partidos da oposição em afunilar a coisa ao nível do ministro, do email, porque na grande escolha estão de acordo, privatizar a TAP para não dar dor de cabeça”, realçou.
Para o líder do Livre, não estão a ser cumpridos os estatutos de gestor público na administração da TAP, dos quais devem ser seguidos certos valores e servidos certos interesses.
"O modo de relação dos políticos do Governo é instrumentalização da companhia, ou a companhia é privada e gerida do modo privado, ou é público e tem de ser conduzida com os estatutos do gestor público e tenha o interesse público nacional comum em primeiro lugar. Acaba por ser gerida de um forma partidarizada ou até personalizada. Essa confusão de planos é um problema que temos no nosos país com Governos de várias cores", concluiu.
Para Rui Tavares, "não existe estratégia do Governo para o futuro" e a "política portuguesa tem falta de liderança".
“Tratam a TAP como se fosse uma empresa da sua propriedade”
Também o PCP, por voz do deputado Bruno Dias que participa na comissão parlamentar de inquérito à TAP, considera que existe uma “contaminação das práticas da gestão privada na gestão pública” da companhia aérea.
“Temos de olhar para a contaminação das práticas de gestão privada para uma gestão pública que continuou como se a TAP não tivesse com estatuto de gestor público, como se as regras que exigem escrutínio, transparência não tivessem em vigor (…) tratam a TAP como se fosse uma empresa da sua propriedade”, realçou o deputado.
No entanto, Bruno Dias realça que o trabalho fiscalizador tem continuado e que é importante, “para além da avaliação” que vão fazendo, “que a comissão faça o seu trabalho com rigor e de forma objetiva”.
“Há falta de decência na gestão do serviço público”
Inês Sousa Real também reagiu às mais recentes polémicas da TAP e as suas opiniões vão de acordo com os anteriores partidos, reforçando que está em causa muito dinheiro público na gestão da companhia aérea.
“De facto há uma falta de moralização e decência em como é gerido o serviço público, mesmo quando estão em causa dinheiros públicos que não se prendem com este tipo de trapalhices e opacidade na gestão da empresa”, comentou a líder partidária.
Tendo em conta a reunião prévia entre a CEO e o Partido Socialista, a deputada relembra que a confiança dos portugueses nas instituições democráticas está degradada e que tem de haver consequências.
“As consequências têm de passar pela dimensão política e também na reforma na forma como as empresas públicas são intervencionadas. A reunião prévia mina confiança dos cidadãos nas instituições, em particular na Assembleia da República”, realçou.
“Governo nunca aparece quando é hora de assumir responsabilidade”
Para Catarina Martins, atual coordenadora do Bloco de Esquerda, também existe uma instrumentalização das empresas públicas por parte do Governo socialista, mas que com maioria absoluta só o Presidente da República é que tem capacidade de dissolver o Parlamento - algo que já descartou.
“Temos uma maioria absoluta e, bem, a maioria absoluta é assim. Quem não se lembrava da maiorias absolutas do Partido Socialista, acho que agora, da pior maneira, já se lembra do que é uma maioria absoluta do PS. É incompreensível a desresponsabilização permanente que o primeiro ministro faz quando as coisas correm mal”, confessou a líder bloquista.
De acordo com Catarina Martins, algo que se assemelha às acusações dos restantes partidos de esquerda, o Governo de António Costa confunde o Estado com as empresas públicas" e acha que "pode dar ordens ou manipular de acordo com os seus interesses".
Da mesma forma, a líder bloquista acusa o Governo de “aparecer quando faz anúncios”, mas desaparecer quando é para assumir responsabilidades.
Ao contrário disso, defende que foi o Bloco de Esquerda o responsável pela realização das comissões de inquérito que têm trazido ao de cima várias revelações e incidentes na gestão e administração da companhia aérea.
"Podemos não gostar das notícias, mas era pior do que continuar sem saber o que se estava a passar na TAP. Há outras perguntas que ficam: qual é a relação deste governo com outras empresas, outros administradores?", questionou Catarina Martins.
Essa questão fica em aberto, mas, por agora, e apesar das polémicas e incidentes que se multiplicam, Marcelo Rebelo de Sousa não dissolverá a Assembleia da República e o Governo de António Costa permanecerá em funções e a gerir o dossier da TAP, até à sua privatização.