País

Utentes esperaram 10 horas para marcar consulta em centro de saúde

Durante as primeiras horas do dia, as pessoas começam a chegar ao centro da Baixa da Banheira, no distrito de Setúbal. O tempo de espera é longo e não é garantido haver senha para todos. O problema é transversal ao país e há outros casos alarmantes.

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O problema sente-se por todo o país, mas há casos extremos. Um deles é o do centro de saúde da Baixa da Banheira. Os utentes queixam-se da falta de médicos e da desorganização do estabelecimento, e dizem que chegam a esperar 10 horas na fila para marcar consulta.

Durante as primeiras horas da madrugada, algumas pessoas começam a chegar ao centro de saúde da Baixa da Banheira, na Moita, distrito de Setúbal, que só abre portas às 8:00. Um utente admite que “é normal vir antes das 4:00”. Caso contrário, pode correr o risco de sequer ser atendido. Há pessoas que acabam por ir para casa depois de estarem 10 horas de pé”, diz.

As senhas para uma consulta só chegam ao meio-dia e a quantidade das mesmas é sempre uma incógnita. As explicações, muitas vezes, também não são dadas.

"Eu não percebo o porquê de só recebermos as senhas ao meio-dia, se isto abre as oito da manhã e não é justo estarmos aqui da uma da manhã até ao meio dia, sem comer e sem beber", lamenta uma das pessoas em frente ao estabelecimento de saúde.

Dois médicos para “20 a 30 pessoas”

Esta quinta-feira, apenas dois médicos estavam a dar consultas no centro de saúde, enquanto outros seis estavam ausentes. “São dois para atender 20 ou 30 pessoas”, contesta um utente. Uma situação que é recorrente.

"Falta de médicos, falta de organização, falta de respeito pelas pessoas. Deviam pensar um bocadinho, pois isto é desumano. (…) Alguém tem de por a mão nisso", pede outra pessoa.

Contactada pela SIC, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo explica que a falta de médicos de família é transversal ao país.

Sobre o centro de saúde da Baixa da Banheira, a mesma fonte revela que faltam doze médicos de família e que a ARS (Administração Regional da Saúde) está a par da situação e a tentar aumentar a capacidade de resposta das unidades.

Mais casos nas últimas semanas

Não há dúvidas de que o problema nos centros de saúde é mesmo de âmbito nacional. Mas é na zona de Lisboa que se tem registado um grande número de casos quase em simultâneo. Nas última semanas, a SIC Notícias noticiou os problemas nos centros de saúde de Algueirão-Mem Martins, em Sintra, e Marvila, em Lisboa.

Também foi relatado a situação no Seixal, onde a marcação de consulta para médico de família pode ter uma espera de cinco meses.

"A agenda para a marcação de consultas está fechada até final de setembro. Esta é uma situação muito grave para os utentes do concelho", disse, em declarações à agência Lusa, o porta-voz da Comissão de Utentes de Saúde do Seixal, José Lourenço.

O concelho do Seixal, adiantou José Lourenço, tem cerca de 36 mil utentes sem médico de família, mas além disso existe um problema "de enorme gravidade" relativamente aos que tem médicos de família uma vez que o tempo de espera para marcação de consultas é agora de cerca de cinco meses.

Em Portugal, estima-se que mais de 1,6 milhões de pessoas registadas no Serviço Nacional de Saúde não tenham médico de família atribuído. É o número mais elevado dos últimos oito anos.

Para tentar contrariar a situação, a retirada de utentes que não frequentam os centros de saúde tem permitido atribuir médico a cerca de 10 mil pessoas por mês.