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A escola pasteurizada

A escola pasteurizada
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Carreira, salários, tempo de serviço, subvenções, saúde, aposentação, refeições, irs e descontos. Se tivéssemos de escolher aquele que é o maior problema da educação em Portugal dir-se-ia... o conformismo.

Como uma peste bubónica, as escolas deste país estão a ser varridas, uma a uma, por uma pandemia de cedência à conformidade de tudo. Públicas ou privadas, vivem uma compulsão pela padronização de critérios, de práticas, de métodos, de recursos, de estratégias, de didácticas, de doutrinas, de projectos, de teorias, que destrói toda a essência que faz de um professor alguém em cuja carreira vale a pena apostar. Ninguém ousa negar que cada criança é única, mas entre isso e tudo fazer para acelerar a sua excepcionalidade vai uma diferença abissal. O mesmo acontece com os professores. A singularidade de um professor não é coisa que se recomende. Bem pelo contrário. Tudo é feito no sentido de que uns e outros se inscrevam numa matriz normativa que trave toda a peculiaridade. A escola está bastante mais preparada para subordinar comportamentos e práticas do que para acompanhar a imprevisibilidade e a liberdade de ensinar e aprender, que é a mais importante coisa para que serve, nos dias de hoje.

A hipnose da rotina

Disciplina e consistência são elementos decisivos para o acto de aprender, sem dúvida. Mas não são únicos, nem são os melhores. De resto nenhum acto criativo se consegue sem contingência ou vicissitude. E fazer aprender é um acto de criação e não de duplicação acrítica. Fazer "como se fez no ano passado" é a prisão perpétua de toda a originalidade.

No final da pandemia, quando se perguntou aos miúdos qual era a pior coisa que eles encontravam no ensino a distância, todos respondiam o mesmo: a rotina. Saber exactamente tudo quanto ia acontecer durante as próximas horas foi aquilo que mais os amordaçou. A rotina é a coisa que mais agride e ofende o