As portuguesas estão a ser mães cada vez mais tarde e é a estatística que o prova. No espaço de uma década, entre 2011 e 2021, a idade média das mulheres ao nascimento do primeiro filho aumentou dos 28,4 para os 30,4 anos no País.
Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística mostram que é nos Açores que a maternidade chega mais cedo, aos 29 anos, e na região Norte onde esta é mais tardia e está até acima da média nacional, atingindo os 30,7 anos.
Esta realidade tem muitas explicações por trás, mas não é obrigatoriamente um problema.
“O relógio biológico existe, mas não é um objeto que está ali a tocar à campainha. A biologia coloca-se na agenda, pode ser mais cedo ou mais tarde, por causa das carreiras, do percurso académico ou outras razões. Mas a maternidade mais tardia não é necessariamente má”, afirma José Carlos Garrucho, psicólogo clínico e terapeuta familiar, sediado em Coimbra.
Até porque, apesar das limitações que a biologia possa acarretar, “a medicina sabe ajustar-se muito bem a isso e proporcionar as condições necessárias”.
Também aqui a estatística nos mostra como é que o perfil da mãe portuguesa se alterou nos últimos anos. Há mais mães que trabalham (fora de casa) e que têm um curso superior.
“Não é por acaso que a maioria dos deprimidos são mulheres e muitas delas mães”
No dia da mãe, que normalmente se assinala no primeiro domingo de maio, muito se fala sobre esta forma de amor incondicional, mas poucos têm presente que “é preciso cuidar dos cuidadores”.
“Não é por acaso que a maioria dos deprimidos são mulheres, e muitas delas mães. Estão em sobre-esforço, é preciso que a sociedade crie estruturas de suporte para ajudar as famílias, para ajudar as mães”, ressalva José Carlos Garrucho, que sublinha como “é maravilhoso ter uma mãe e sentir que ela também é feliz por sê-lo”.
As mães portuguesas “são o grande pilar da família” e “há um pressuposto da nossa cultura de que mãe é igual a amor, suporte, a compreensão e que o amor de mãe está sempre garantido”.
Por “razões históricas”, “estão mais em casa, mas isso está a mudar”, destaca o terapeuta familiar.
“As mulheres com carreiras não deixam de ser mães, de ser atentas, de estar disponíveis e atentas para os filhos. Felizmente os pais também estão a ficar mais próximos dos filhos e dar mais espaço às mulheres para seguirem as suas carreiras”, afirma o psicólogo.
Ainda assim, continuam a assumir um papel “duplo ou triplo” na gestão das carreiras e da vida familiar.
“Também há más mães e Portugal não está isento”
“Felizmente”, não são a maioria, mas “também há más mães e Portugal não está isento”, assume José Carlos Garrucho.
“As boas mães são mães que ajudam na autodeterminação dos filhos, próximas, dedicadas e o meu respeito pelas mães é, como homem, do tamanho do mundo, pela forma como se entregam à maternidade”, conclui o especialista.