A mina do Barroso, em Boticas, é o primeiro projeto de lítio em Portugal a ter uma declaração de impacte ambiental favorável. Uma decisão que a população de Covas do Barroso não aceita e promete contestar em todas as instâncias para defender a região, certificada como Património Agrícola Mundial.
Paulo Pires é um dos rostos da indignação. Fez toda a sua vida em Covas do Barroso, casou e teve dois filhos, ainda pequenos. Seguiu o caminho que muitos trilham na região, onde a principal fonte de rendimentos está na agricultura e pecuária. Um trabalho que a população acredita que vai ficar comprometido, agora que a Agência Portuguesa do Ambiente deu luz verde para a exploração de lítio.
“Criei o meu próprio emprego e às vezes ainda dou dinheiro a ganhar a outras pessoas. Agora, minas a céu aberto não trazem nada de bom”, lamenta o empresário.
Em Covas do Barroso criou-se uma associação para defender quem vai sentir os efeitos da mina de lítio. Como a exploração de gado de Nélson Gomes e Aida, que ficará paredes meias com a exploração mineira, ou os terrenos que Daniel Loureiro vai perder.
“É um projeto contra tudo e contra todos. Faz-nos lembrar um carro quando entra em sentido contrário na autoestrada, põe em perigo todas as outras atividades que cá existem, a apicultura, a agricultura e o turismo, a criação de gado”, critica Nélson Gomes, membro da Associação Unidos em Defesa de Covas de Barroso, sublinhando: “Não vamos desistir, não pensem que isto nos calou ou que isto morreu aqui. A guerra começa agora”.
Uma das razões que levou a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) a dar viabilidade à mina de lítio foram as contrapartidas económicas para o concelho de Boticas, o que a população, que conta com o apoio da autarquia, contesta, levantando preocupações devido à exploração a céu aberto e os cursos e consumos de água. Mas a APA garante que essas questões são salvaguardadas.